quarta-feira, 13 de outubro de 2010

HOJE EU VOU TOMAR UM PORRE, DE ACETATO E POLÍMERO

Quando um lobo vira besta, se apaixona e sua neurose lupina lhe segreda grandes chances do seu rabo ficar entre as pernas, o que geralmente se faz? Toma-se um porre. E foi minha sábia decisão. Comprei cinco ingressos antecipados, on the rocks, pra três dias. Sozinho, sem a Chapeuzinho. Tá, tudo bem, não sou lá um bebum que mete medo, mas pra meus parâmetros, boemia, aqui me tens de regresso.

Destes cinco filmes, quatro de um tal de Bruno Dumont. Francês. Desconhecia. Grande surpresa, o que me relembra, coincidência, do festival passado, outra francesa: Claire Dennis. Engraçado que a França e seus filmes premiados em Cannes (Of God a men, Ano Bissexto) decepcionaram bombasticamente.
Eis os filmes assistidos, nessa ordem: 'A Vida de Jesus', 'Flandres', '29 Palms', 'A Humanidade'. Como sou imbecil, cometi um pecado de  Hadewijch: meu cérebro excell cheio de bug até o colocou na planilha neural, mas fui salvo pela moça dos ingressos. "Moço, você vai assistir '29 Palms' aqui em Botafogo e, 3 minutos depois conseguirá chegar em Ipanema?" É... perdi.
Tirando '29 Palms', gostei de todos. Muito. Bruno Dumont é um cara de estilo, com sua marca registrada na violência espreitadora e na fuderola realista. Planos de xana geniais. Vaginiais!

Mas faltou dizer o quinto elemento. De longe, o mais divertido de todo o meu festival: 'Contos da Era Dourada'. Um filme de curtas romenos. Todos muito bons, com o recorte de tirar sarro mítico da era Nicolae Ceausescu. Vale a fadiga de 150 minutos. Principalmente pelo terceiro curta, de uma possível visita da comitiva do ditador a uma cidadezinha do interior do país. Não é um curta piada, mas é também piada, daquelas genias, subversivas, cheia de entrelinhas, camadas de cebolas que nos provocam lágrimas nos olhos e construída aos poucos. O cinema veio abaixo, a risada foi pra cima. Ecoou pra depois da sessão na minha caminhada de volta.

Só parou quando descobri que tinha um outro filme que deveria ter assistido. Um do Woody Allen! Não... eu assisto filmes do festival me baseando mais naqueles que não vão entrar em cartaz. Mas é que, bendito torpedo abatedor, Chapeuzinho me diz que foi ao cinema a convite da vovozinha. E, claro, os ingressos já estavam esgotados. Mas ela me consola: "Sabe o nome do filme, Lobo? 'Você vai conhecer o homem dos teus sonhos' "

Uau! Mas a pulga atrás da minha orelha decidiu realizar uma festa de arromba, convidando várias outras: a Chapeuzinho ainda VAI conhecer o homem dos sonhos dela? Ela sonhou o meu sonho e o Caçador Pai Boonmee tá rondando a floresta? Afinal, essa minha história da Chapeuzinho segue a narrativa da comédia, comédia romântica, drama, suspense, melodrama ou é um experimental pós-contemporâneo da porra?
Só rezo, para a lua, que não seja um conto da carochinha.





domingo, 10 de outubro de 2010

ENTRE SAFRA DE JORNALISTAS


Cansado dessa vida de festival decidi abandonar o barco e seguir rumo ao nordeste. Fui de encontro às minhas memórias e aterrisei em Recife, cidade náufraga.  Com os olhos marejados desci do avião cantando VOLTEI RECIFE trançando as pernas em ritmo de frevo, parecia um bonecão do posto em noite de ventania.  A cidade sobre os escombros afogados de outrora ainda me causa impacto.

O fato é que enquanto me encolhia na cadeira do avião entre um nutri e outro passei por uma reportagem no jornal Globo intrigante, o headline era mais ou menos esse – A safra de filmes da Premier Brasil decepciona. Não entendi muito bem, afinal o que passa na Premier Brasil, sacas de café? De soja? O jornalista falava de agricultura? Fiquei pensando nessa analogia, quando a safra de café é ruim, todo o café é ruim. E quando a safra da Premier é ruim, todo filme feito no Brasil é ruim?

Me parece que o jornalista trocou as bolas. Pelo que li no mesmo jornal em outra reportagem mais de cem filmes se inscreveram na mostra, mas apenas 17 longas foram selecionados para a competição. Não sei não, mas o problema não é de safra, mas de curadoria.  Vamos ser claros. Confesso que não vi nenhum filme da Premier Brasil, mas no entanto tem um bocado de filmes que não foram selecionados que tenho a maior curiosidade de ver. Muitos dos filmes que passaram na SEMANA DOS REALIZADORES (e que pelo meu caos inerente, e pelos caninos do neném, não consegui ver), como a leva do jovem e ousado cinema Cearence, e o novo documentário da Marília Rocha, devem ser interessantes exemplares dessa “safra”. Há ainda filmes de amigos próximos, como o novo do Felipe Bragança e da Marina Meliande, que não estão no festival e que morro de curiosidade de ver. E mesmo que seja um gesto oracular, pelo o que conheço dos dois, deve adicionar poesia, coragem e beleza a essa nova “safra”.

Imagino também que na própria Premier há filmes interessantes e inovadores. Nesse mesmo blog o RISCADO foi bem avaliado.

Enfim, esse negócio de se referir ao cinema como safra, gado, curral ou manada é a maior besteira do mundo. Vejam os filmes pelo que eles são. E se é para criticar a curadoria do festival sejam claros, digam em alto e bom tom – a curadoria do festival é uma bosta! Eu como não vi, me abstenho em relação aos filmes que passaram na Premier, mas não nego que adoraria que os filmes citados nesse post fossem exibidos no Festival.  

Roberto Robalinho

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

GOSSIP BOY

Chapeuzinho Vermelho me disse que leu o blog. E acha que nós, escrevinhadores rocinânticos virtuais, a fazemos lembrar do seriado Gossip Girl. Terá sido um elogio?

Será que algum dos nossos meia-dúzia de três ou quatro leitores pode me ajudar a desvendar este mistério esfíngico?

Lobo Mauro

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

PAI BOONMEE DÁ CHAPÉU

Madrugada de sábado na rua Joaquim Silva, Beco do Rato. Alguns gatos pingados no chorinho, algumas gotas pingadas de chuva e lágrimas. Pinga nos copos. Sede nas almas. A deriva nesta esquina de minha toca.
Chapeuzinho Vermelho passa por mim, sem me perceber. Só pode ser ela. Pago correndo a conta. Deixo troco e algumas perspectivas. Alcanço a rua, mas não minha paixão, que vira pelo avesso minha razão e a esquina da Augusto Severo. Chamo-a, mas no momento em que passa um carro de polícia prendendo minha respiração.
Chapeuzinho caminha, rebolando meus sonhos de um lado para o outro, centrífuga da libido. Salivo e tropeço em minha própria língua caída no chão, ao lado de uma guimba de cigarro e uma lata de cerveja ainda não recolhida. Reciclo minhas esperanças e grito minha urgência. Chapeuzinho se vira, amorenando meu mundo.
Do outro lado da rua, de trás de uma estátua clássica da Praça Paris, amoderna-se um vulto. É o Caçador, que pula a cerca da praça como um Matrix Nagô, atravessa a avenida em dois passos ignorantes de ônibus e outros travestis. Um Caçador Oriental, em trajes de Xangô. Pai Boonmee. Abominável usurpador, enlaça Chapeuzinho num beijo puto, levanta-lhe o capuz vermelho acima da cintura. Ai, meus pecados! Chapeuzinho, linda, só de capuz vermelho e uma ínfima calcinha de pele de lobo abatida ao dente.
Pai Boonmee lhe taca a mão naquela bunda pão-de-açucar. Perdi o bonde da história, diabético de afeto. Mas..., que rabo! Um rabo daquele, tão bonito, tão LAN, tão traveco! Chapeuzinho Vermelho, a Menina do Paraguai mais terrível da Augusto Severo. C'est vero!

Acordo suando alívio. Belo Horizonte. Na noite anterior, depois de 5 jogos, meu Galo venceu. Hoje, eleição com vitória garantida de Anastasia e Aécio. O que vim fazer aqui? Pego o celular para ver as horas e encontro um torpedo, cujo alvo, minha lógica:  Chapeuzinho Vermelho me dizendo que assistiu um filme ótimo no Festival do Rio. Que riu muito. Uma comédia finlandesa, com a presença ilustre do próprio diretor na sessão. Não diz o nome do filme. Não precisa. 'O Ciúme Mora ao Lado', de Mika Kaurismäki.
Definitivamente, homem algum jamais entenderá uma mulher. Quiçá, um Lobo Bobo.

Lobo Mauro

NÃO FREUD

Eu já estava estranhando. Quase duas semanas de Festival do Rio e nenhuma bomba (o filme sobre o Mario Filho é fraco, mas não chega a freqüentar a zona de rebaixamento, ainda que também esteja longe da Sul-Americana). Mas hoje, após êxitos sucessivos, consegui ser presenteado com uma bomba. A mula manca é o mexicano Ano Bissexto, que eu bem poderia ter deixado para 2012. Já certo do juízo final, quem sabe poderia ser poupado de tal constrangimento.


Engana-se quem acha que nos estertores, fica mais fácil ver um filme no Festival. Lord Aragão não me deixa mentir. O nobre escriba e eu tentamos em vão acompanhar a Turnê de Mathieu Almaric, mas sequer conseguimos uma temporada popular na Lona Cultural de Del Castilho. O amigo ainda estava na Glória quando aviso que acabaram-se os ingressos, mas não os otários. Do outro lado da linha, ele me indaga: "Algo que vale a pena?". "Acho que não", respondo sem muita convicção. Mas a amiga Inês aponta a esquina e me informa que o referido o mexicano foi laureado em Cannes. Claro que tal argumento não me convenceria. Mas o comentário a seguir me faz repensar. "É filme com putaria". "Eba!They fucked up with the wrong Mexican", bradei Machetianamente.

Laura, de 25 anos, vive sozinha e entediada em seu apartamento. Após uma transa com Álvaro, passa a viver com ele um tórrido, hematômico, uréico e nocotínico romance. Acaba por aí? Não, Laura ainda sofre pela perda do pai, que morreu 4 anos antes, num dia 29 de fevereiro. Não sou lá muito talentoso com sinopses, mas fica fácil prever que o filme descamba pro Freud mais clichê. Cenas de perversão, enquadramentos rigorosos e silêncio. Este, devidamente quebrado por um nada cerimonioso ronco do colega ao lado, que também parecia não curtir muito a sessão.


A platéia se deleita com as cenas da personagem se entregando aos delírios de Sade. Tudo muito bobo. Se esse era pra ser o filme-escândalo do Festival, estamos mal. Não dá nem pé de página no Meia Hora. O que resta é Laura riscando os dias em seu calendário, enquanto eu conto os minutos para que a tortura acabe. Pelo menos para que o colega ao lado não acorde com torcicolo.


Roberto Souza Leão

terça-feira, 5 de outubro de 2010

MALANDRO É MALANDRO...

Noel Rosa, os nobres silvas Bezerra e Moreira, Macalé, Tim Maia, Nelson Gonçalves, Sergio Mallandro...
Como todo bom otário sempre adorei a malandragem. Nada mais natural do que aproveitar a tarde de sábado para levar minha manézice para assistir a Histórias reais de um mentiroso. Trata-se do documentário sobre o mais célebre 171 contemporâneo: Marcelo Rocha (pra ficar em apenas um entre tantos nomes e identidades), o sujeito que engrupiu todo o baixo high society do Recifolia fingindo ser filho do dono da GOL.

Sessão de gala. Sobe ao palco a diretora paulista sobre saltos de madeira e cintura dura para os agradecimentos de praxe sem qualquer lábia, lero, ou malemolência. Mariana Caltabiano, com quem Deus foi muito mesquinho em termos de swing ou simpatia, faz as óbvias reverências a patrocinadores e equipe. Tudo muito chato.

Até que, pisando manso, chega ao palco um gordinho bonachão escondido em um boné. A platéia já vai adivinhando de quem se trata quando ele faz um simpático e improvável aceno de algemas para o público. Delírio da galera!
Interrompido pela cintura dura, que rapidamente escorraça do palco a nossa alegria junto com o gordinho bonachão. E antes ainda solta um amargo: “Isso não estava previsto”.

Graças a Deus que isso não estava previsto, dona Caltabiano! Se o gordinho só fizesse o ‘previsto’ provavelmente a senhora não tinha filme.

Mas tem. Amém. Vamos a ele.

Eu até que vou me divertindo com as peripécias do gordinho, temperadas com algumas animações ligeiramente bobocas e uns contrastes de edição espertinhos, quando surge então o grande golpe.
Tá certo, nada absurdo. Assistir a um filme sobre um 171 traz embutido o risco de ser vítima de algum estelionato. Só não adivinhei que se trataria de um estelionato cinematográfico.

Já perto do fim, o filme se aproveita das habilidades aeronáuticas do seu personagem para fazer um desvio de rota. De repente, sem quê nem porquê, estamos acompanhando a tragédia familiar da diretora, que usa seu filme para apontar a culpa da empresa Airbus no acidente da TAM.

 Antes de aterrisar em um melodrama com pitadas de Michael Moore, procuro a  saída de emergência enquanto me lembro das instruções das aeromoças da TAP:

“Onde estiver escrito push, não puxe, empurre. Onde estiver escrito pull, não pule, puxe. E onde estiver escrito Exit, não hesite, pule!”

Tarde demais. Antes que eu consiga pular, a diretora me alcança ainda sentado para me fazer ouvir um pito em Voz Over. Com um tom de professorinha de primário, ela passa uma reprimenda pública no gordinho que não se emendou e continuou sendo um mau menino.

Eu me afundo na cadeira, o gordinho mergulha no boné, enquanto a cintura dura segue altiva no salto de madeira.

Realmente, já não se fazem mais malandros como antigamente.

Aurélio Aragão

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Já levou 500 socos na cara em uma noite só?

Resolvi seguir os conselhos de Maíra, minha guru pernambucana. Nada de cinema. Ainda mais numa sexta-feira a noite. Chapeuzinho, está na hora do Lobo beber água!
Caminho serelepe pela Avenida Rio Branco. Cantando na chuva, desviando minhas orelhas das pontas afiadas de sombrinhas vindas de lado, de cima, em direto, em upper, um Anderson Silva pedestre. Por que certas pessoas (muitas, aliás) andam com o guarda-chuva aberto embaixo das marquises e te impurram, órfão de proteção, para adoção da chuva?
Uma mulher, em especial, numa beleza autista, quase me cega o mundo. Gostosa, não rebole tua sombrinha na minha cara como a espelhar teu glúteo máximo nesta tua passarela mínima, pois de mim não receberás um fiufiu! Nada disse, porém. Minha boca fechada pela aura alegre, o mau humor recolhido numa sala escura de uma sessão qualquer do festival. Amanhã, Belo Horizonte, cumprir meu direito de cidadão. Mas hoje, Chapeuzinho será minha!
Outra sombrinha, outra espetacular defesa em pêndulo. Sou liso boxer. Muhammad Ali dos trauseuntes. Peso meio-pesado com agilidade de pluma. Imbatível, intocável. Eu, um deus das esquivas, um Éder Jofre do ri... ai! No meio do caminho não tinha uma pedra. Mas um buraquinho molde do meu pé. Alguém tem um advogado para processar a prefeitura? Não acredito no azar. Dou mais dois passos, tentando sepultar a desdita. Mas me dói o tornozelo. E a alma. Já me conheço. Fui nocauteado pelo ridículo.
Páro um táxi. Chefia, me leva de volta pra casa. Meu tornozelo, uma jabulani. Minha auto-confiança, um Grand Canyon. Muito azar. Só falta agora meu Galo começar a ganhar. Preocupante.
Ligo pra Chapeuzinho. É, boneca, não poderei ir ao teu encontro. Sim, mil deculpas, mas torci feio o tornozelo. Preciso agora de uma enfermeira. E, mais do que nunca, preciso de ti.
Lembrei-me do filósofo Rocky Balboa: "Já levou 500 socos na cara em uma noite só? Depois de um tempo começa a doer."
Pois Chapeuzinho diz que adoraria, mas não pode. Ficasse para a próxima. E boa viagem, meu gatinho.
Sou lobo, penso, e não bichano. Agora, fera ferida, no corpo, na alma. E no coração.

Lobo Mauro

domingo, 3 de outubro de 2010

O DESPACHO E OS CAMINHOS QUE SE BIFURCAM

Sábado a noite tinha um compromisso inadiável com o desmascaramento da farsa do Tio Boonme. No estação Botafogo a exatamente meia noite, no meio da encruzilhada entre a Mena Barreto e a Voluntários, Tio Boonmee encarnaria de novo por uma última vez seu cavalo cinematográfico e de novo nos contaria o seu passado. Não sabia ainda que o verdadeiro encontro dessa noite, por ordem do acaso, seria uma volta ao ponto de origem, onde toda a farsa começou.

Saí de casa com uma antecedência de três horas, ignorando o fato de que pessoas dormiam na fila para essa sessão única. Uma tempestade enegrecia o céu e anunciava o destino trágico do herói. Ouvia gritos esparsos e solitários de alegria. Só podia ser mais um mal presságio. O Botafogo fazia um gol em um combalido flamengo. Mesmo assim, apesar dos avisos, e ciente da tormenta que antecede a glória, o herói seguiu seu destino com seu caminhar trôpego.

Não consegui nem a poeira do último ingresso do filme. Assumi minha errância e estupidez mesmo, e comprei ingresso para um filme com a sessão próxima à do Tio Boonmee. Imaginei pelo menos presenciar a agitação exotérica e orgíaca em torno do grande evento.

Faltavam mais de duas horas para a minha sessão e fiz o que era natural e fui beber a errância e as mágoas futebolísticas. Procurei algum rosto conhecido na multidão, e sem um ombro amigo para reconfortar sentei em um bar onde pudesse exercer a solidão sem ser importunado.

O fato é que logo fui salvo do abismo dos sem ingresso e sem amparo. Não, não apareceu nenhum ingresso, mas um grupo de amigos dispostos a compartilhar minha errância etílica e eliminar a aparente solidão noturna. E não é que no meio dessa malta que bebia, segundo orgulhosamente me informaram, a mais de 24 horas seguidas estava o grande Simplício, que de simples não tem nada.

Ali o herói sentiu que a obra do acaso era um capricho do destino. A tempestade espessa e cinza pairando sobre as nossas cabeças como uma barriga de asno se desfazia. Há quase duas semanas atrás, em uma conversa com esse mesmo Simplício, que agora aparecia difuso pela minha embriaguez, surgiu a ideia desse malfadado e irresponsável blog. Não me lembro quem teve a ideia original, mas em algum momento percebíamos que um (des)guia, feito de desvios, era o que faltava para (des)conduzir as pessoas pelo labirinto do festival. E lá nessa noite que se tornava diáfana, estava o Simplício com sua pose de Minotauro tropical e bêbado.

E o Simplício assumia em forma de escracho, sem saber, o papel oracular que esperava encontrar essa noite no Tio Boonmee. E, num inverso avacalhado, o oráculo narrou algo do seu passado. Nos contou em seu tom bufo peculiar o que até então é a sinopse de filme mais bonita do festival. Aviso logo que o filme não passará mais e que tomei a liberdade de não checar a sinopse original. Melhor ficar com a versão poética do Simplício, mesmo que esteja mentido descaradamente.

O filme é o NOSTALGIA DA LUZ, do renomado diretor chileno Patricio Guzman. Eis a sinopse genial: no deserto do Atacama um grupo de astrônomos busca na imensidão do céu pistas de vida extraterrestre. Enquanto isso, na galáxia seca da areia do deserto, um grupo de mulheres busca vestígios de ossos humanos de parentes vítimas da ditadura chilena. A oposição das imagens é linda. No mesmo lugar, o deserto, vasto por natureza, um grupo olha o céu e as estrelas, outro o chão e os ossos dos mortos. A busca pela vida nas galáxias, e a busca pela morte na terra. Na mesma imensidão o encontro da vida e da morte, do etéreo e do horror, do homem consigo mesmo. E como frisou o nosso oráculo – “o mais louco era que tanto os astrónomos como as mulheres buscam reminiscências do passado. Um a luz que quando chega até nós já é uma imagem de algo que já passou, muitas vezes de uma estrela que já morreu. O outro busca os vestígios da morte, do horror do passado que está enterrado nas areias.”

Me desculpe o Tio Boonmee, mas com esse olhar poético sobre o passado, mesmo diante dos horrores, achei que a noite já estava ganha e desisti de vez da pajelança sem nenhum remorso. A errância tem dessas coisas, como tem as encruzilhadas. São caminhos que se bifurcam e se abrem ao mesmo tempo. Que fique a lenda do Pai Boonmee, que fique a lenda do Simplício. 

Roberto Robalinho    


A MULHER DO LADO

Quinta-feira a noite.
Pois é, a Chapeuzinho teve uma queda para o ‘Homem do Lado’. Confesso nervoso, de início. Overdose de cinema para um contexto acasalamentador. Mas não é que o safadinho do filme começa muito bem? O plano inicial é surpreendente: enquadramento metade esquerda iluminada, metade direita na sombra. E fica assim, imagem fixa. Até a gente continuar pensando: que raios é isso? Penso ser o fim de um muro branco, numa esquina, o que explicaria a outra metade escura. E minha possível metade ali, do meu lado, rosto oculto na penumbra dos meus sonhos.
Pow! Na metade negra do quadro, uma marretada. Pow! Um machucado se abre. Ah, meu coração. Pow! Entendi. O buraco em que será colocado a janela. Pow! Uma cicatriz reverberada na parede branca iluminada. Pow! Eita, nada disso. Num mesmo quadro, interna e externa. Duas câmeras criando um mesmo plano. Pow! E o parto de um buraco, visto ao mesmo tempo fora e dentro. Único momento do filme no interior da casa do vizinho, útero de uma história com cordão umbilical intacto.
Filme cheio de graça, com soluções de enquadramentos beirando o genial. E, nos momentos em que minha verve besta de cineasta começa a tecer idéias de que a história começa a desandar, os risos mal contidos da Chapeuzinho me dão um tapa: nenhum filme pode ser ruim se faz um amor sorrir.
Viva a Argentina. ‘O Homem do lado’ tirou Chapeuzinho para bailar. Minha relação tango ainda sobrevive aos meus passos de samba.

Lobo Mauro

sábado, 2 de outubro de 2010

CAMPANHA ONDE ESTÁ PAI (TIO) BOONMEE


Gostaríamos de clamar as multidões para que nos ajudem a encontrar o famigerado ex Tio e atual Pai Boonmee. Essa história de largar a tela do cinema para viver de crendices e orgias na cidade do Rio de Janeiro está muito doida. Queríamos fazer uma entrevista para que o endiabrado ex-personagem de cinema possa dar suas devidas explicações.

Não temos como saber a veracidade dos posts que temos recibido com sua assinatura e se os divulgamos é por que temos um dever ético de (des)informação com nossos leitores.

Aqui na redação estamos muito preocupados que esse fato inédito, o abandono do filme por um personagem, se torne uma verdadeira epidemia. Já pensaram o inferno se o Rio de Janeiro, após anos abrigando todos os golpistas e bandidos internacionais, virar um paraíso orgíaco para ex personagens de cinema? Já pensaram se a moda pega o que poderá acontecer?

Para acabar com esse clima de alarme, queremos encontrar o verdadeiro Pai Boonmee para que ele possa explicar suas verdadeiras intenções. Por isso, por favor, se alguém tiver notícia de seu paradeiro, ou mesmo provas, mande o link com as fotos e vídeos para que o nosso jornalismo investigativo possa chegar ao fundo dessa história.

Agradecemos a atenção de todos e aguardamos ansiosos as colaborações.

Conselho (não)editorial do Guia de Cego.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

EM CASO DE EMERGÊNCIA....SEGURA NA MÃO DE DEUS!

Não, não estou fazendo apologia ao fluminense, Deus me livre! Finalmente após uma semana de festival consigo escrever um texto sobre um filme. A vantagem de um guia cego e errante é essa. O descompromisso é tanto que nos é permitido essas liberdades e devaneios. Viva os devaneios e a vadiagem descompromissada.

Após cantar todas as músicas do Cocoricó (aqueles que são pais saberão o que digo) consegui adormecer os caninos selvagens do meu filho. Tinha a tarde toda para vadiar, então coloquei o meu velho calção de banho e fui ao cinema.

Sessão de duas da tarde do filme OF GODS AND MEN no cinema São Luiz. Seria fácil conseguir ingresso longe da badalação de Botafogo com suas ninfetas cinéfilas. Ledo engano, ao chegar uma fila extensa se formava antes de abrir a bilheteria. Por sorte  90% das pessoas estavam indo ver o filme baseado no livre do Chico Xavier. Quem diria que Chico Xavier seria maior que deus? O azar é que a maioria era de velhinhas que não gostaram nem um pouco dos meus trajes – meu velho calção de banho translúcido!
Entrei na sala usando um jornal para esconder os meus trajes. Grande expectativa com o filme que tinha ganhado o prêmio do júri em Cannes. Apesar de que um amigo sempre me advertiu que cabeça de júri e bunda de nenem ninguém sabe o que pode sair. Agora que sou pai de um nenem de 1 ano e sei o que pode sair de sua bunda devia ter desconfiado do prêmio do juri.

Para resumir, o que um grupo de monges entocados em uma montanha ouvindo lagos dos cisnes tem de emocionante? Nada, rigorosamente nada. E essa me parece ser a cena de epifania do filme. O que faz um grupo de monges franceses ao serem confrontados com uma situação de perigo em um país muçulmano do norte da África? Essa seria a sinopse do filme. Ora não são monges? O que interessa o perigo? Não vão para céu quando morrerem? Ah, mas o filme vai discutir esse negócio do conflito religioso por um viés humanista, afinal os monges se sentem irmãos dos árabes. Não todos, é claro. Humanismo tem limites. Há os terroristas, o exército e os políticos que não merecem um lugar no céu. Enfim, duas horas de monges rezando e chegando a conclusão que no fim morrer é encontrar deus, me parece um engodo daqueles. Por isso me parece que o filme na verdade é um manual para monges em momentos de perigo – ao ver um árabe terrorista barbudo com sua kalashnikov em punho não se desespere, reze 10 ave marias e 10 pais nosso, e, se isso não funcionar, não se esqueça de que é um monge e tem um lugar garantido no céu. Melhor para o terrorista que, se morrer na jihad, vai para um céu com cem virgens só para ele.

Enfim, mosteiro que não tem o Fradim não tem a menor graça!

Roberto Robalinho 

A MEIA NOITE RECORDAREI NO TEU CADÁVER

Caríssimos Cegos de Quixote,

Trago a prostituta amada em três dias.
Curo hemorróidas.
Faço América-RJ campeão brasileiro.

Aproveito para convidá-los para minha Pagelança Tailandesa que realizar-se-á no Estação Botafogo, à 0h de  sábado pra domingo.

Jogadres de bocha da Xavier de Brito e Proxenetas da Ceará pagam meia.

Axé!

Pai Boonmee

NEM TODAS AS MÃES SÃO FELIZES


Os domingos da minha infância conheceram uma tradição mais forte do que o Silvio Santos ou a Pizza de Mussarela. A cada melancólico crepúsculo dominical, sabíamos que tinha chegado a hora do indefectível telefonema da minha mãe para minha avó. Um quase religioso dever filial que ela cumpria entre resignada e feliz. E que acho que se mantém até hoje. Mesmo que minha quase centenária e completamente surda avó tenha que adivinhar telepaticamente as perguntas gritadas pela minha mãe do outro lado da linha.
Quando meu telefone tocou no último domingo, intuí todos os cruzamentos simbólicos embutidos naquele telefonema. Como diz um amigo meio doido–meio psiquiatra: “Tudo significa!”. Mas encobrindo as razões rituais e afetivas daquela ligação estava um pedido aparentemente singelo. Minha mãe só queria algumas dicas para o festival. 
O desastre. Eu ia ser desmascarado. Depois de ser bancado pelos meus pais durante anos para concluir um curso de cinema cujo diploma nem serve para tapar buracos na parede, a minha incompetência ia ser exposta. Horas de aula de teoria, linguagem e história cinematográfica. Milhares de reais gastos em ingressos de filmes obscuros. E eu não era capaz de indicar um filme!?
Diante do pânico daquele momento tentei jogar no seguro. Um pouco evasivo indiquei um filme sobre o Gainsbourg que sei que minha mãe gosta. Mas ainda assim meu fracasso gritava diante de mim. Decidi suprir minhas lacunas cinéfilas assistindo ao filme mais ousado, mais antenado da programação do dia.
Foi então que surgiu. Kaboom. A bomba do meu festival.
Meu erro foi fechar os olhos para os sinais do que estava por vir. Apesar de topar na entrada com uma dúzia de adolescentes mais excitados do que fila do show do Fresno, insisti. O resultado disso já ficou claro nos planos iniciais. O filme abre com um guri sexualmente confuso mergulhado em uma fantasia erótica com um surfista débil mental. E por aí vai. A sensação é a de assistir a Malhação numa versão Playboy TV.
E isso certamente não é o pior. Sexo em geral é bom. Pelo menos distrai. O que faz sofrer é acompanhar um enredo que parece saído de uma partida de RPG jogada por adolescentes oligofrênicos. Costumo ser contra qualquer censura. Mas esse manifesto da confusão hormonal merecia a advertência de “Proibido para maiores”.
Na saída do cinema passo por senhorinhas que balançam as cabeças em desabono. Devem ter filhos tão desastrados quanto eu. 
Já do lado de fora, todos os amigos inteligentes chegam para a sessão de um filme costa-riquenho que parece lindo e que eu naturalmente ignorava. Minha incompetência exposta.
A única coisa que me resta fazer é passar o telefone deles para a minha mãe. 

Aurélio Aragão

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

COMO É BOA NOSSA EMPREGADA

Um desavisado que descobrisse que, além de A Empregada, Im Sang-Soo também realizou um sugestivo A Última transa do Presidente pensaria de bate-pronto: "trata-se de um pornochanchadista coreano". Nem tanto, nem tão pouco. A empregada em questão não faz juz às monumentalidades apoteóticas e sambaleônicas de uma Adele Fátima, mas com certeza seria capaz de fazer Pai Boonmee prever o porvir em outras freguesias.

Um filme do subgênero Coreano Clássico Narrativo.Oriental não-contemplativo. Desconfiava que já tinha visto alguma coisa dele. Horas antes, no trabalho, meu pernonal IMDB informa dos filmes anteriores de Sang-Soo, que aqui, pra simplificar a minha vida de cronista de festival, chamarei carinhosamente de Samsung. Memória também é esquecimento. De uns tempos pra cá descobri a liberdade de não lembrar. Toda vez que isso acontece me recordo (ou me esqueço) de que em anos anteriores via filmes a Bangu (sempre o futebol!). Poucos são os que ficam. Aos laureados com a minha capacidade mnemônica, chamo-os de fundamentais. Samsung não figurava entre eles. Pelo menos até então.

Estou confortávelmente instalado na minha poltrona enquanto espero a sessão. O diretor chega como um lutador de boxe, falta-lhe apenas o roupão e o treinador vociferando atrás, "protege a guarda! protege a guarda!". A bela alvinegra que apresenta a sessão diz não saber se Samsung vai apresentar o filme em Inglês ou Coreano. Ele, pândego como os bons, saúda a plateia num suculento e gorduroso brasileirês: "Boa Noite". É o suficiente para angariar a minha simpatia.

É um filme de mulheres. Elas brilham, excitam, revoltam, até chateiam. O personagem masculino do filme é um mero detalhe. Sua canastrice dá exata dimensão de que veio ao mundo com a mesma função de todos os seus pares: ver as meninas e nada mais nos braços. Almodovar, Hitchcock com ares de Gilberto Braga. Parece pouco elogioso? Um tanto sarcástico? Para alguns, talvez. De certo não para aqueles que, como eu, curtem um melodrama classudo e rasgado.

Roberto Souza Leão

MOEDA DE TRÊS FACES

Chapeuzinho me mandou uma mensagem. "E quem diria, o improvável transforma-se em real. Há inteligência no mundo animal". E eu penso, uau! Mas a vida não é assim tão rima fácil, meus caros meia-dúzia de corajosos leitores. Eis o término:
"De qualquer forma, gostaria que o nosso quarto encontro não fosse no Cine Odeon... afinal, nem só de documentários inteligentes (ou nem tão inteligentes assim) vive um mineiro cineasta. Gostaria que, no próximo encontro, eu pudesse levar doces para a vovozinha, mas, é claro, com a sua ilustre companhia!"
Ou, usando a tecla SAP, se eu errar no quarto encontro, a frase acima transmuta em meu epitáfio. 
Bem, chegamos quase no meio do primeiro turno do festival. De, deixa eu ver, uns 130 filmes disputados, venci 2 longas documentários, mais seus dois respectivos curtas. Meu aproveitamento é compatível com o do meu Galo. E a pressão aumentou.
Abro o guia oficial do festival, já que o nosso não aponta nenhum caminho. Tenho pelo menos uma pista: nada de Odeon! Nhaca, terei que vencer na casa do adversário.
Pesco um filme do rio caudaloso. Um peixe, chinês, chamado: 'O Ültimo Trem para Casa'. Se a alcunha fosse 'Wanda', escolha certa. Pela sinopse, documentário de dois velhinhos casados que se "debatem por um bilhete para a viagem de 50 horas até sua cidade, onde anseiam por encontrar a filha Qin, deixada com a avó há 16 anos." Melhor filme num festival de documentários em Amsterdã. É, não deixa de ter certo pedigree. Mas Chapeuzinho irá gostar de outro documentário? Devo ter certas fixações, viu.
O segundo pré-escolhido: 'Líbano'. Vencedor do Festival de Veneza! Ah, todo cinéfilo é meio Serra Pelada, com seu fetiche reluzindo ouro. Mas o filme é de guerra, com os soldados personagens "tentando não sucumbir à claustrofobia" em meio a "uma terra arrasada, repleta de corpos e desespero". Éééé!, perfeito para um ataque romântico do lobo.
Terceiro risco, una película hermana. 'O Homem do Lado'. Sinopse divertida, em que um mauricinho argentino fica fulo com um buraco na parede aberto pelo vizinho, para construir uma janela de frente à sua casa. Hum... Melhor fotografia em Sundance. Paradoxo é que não gostei nem um pouco das fotos still no site do festival. 
Ah, que essa escolha tá tão chata quanto esse post. E tensa. Não me pauto agora por estéticas, narrativas, contemporaneidade. Quero apenas chegar ao coração da Chapeuzinho. Caminho que trilho sem faro e completamente cego. Mas como sou lobo resoluto, ligo pra moça, leio para teus ouvidos de carmim as sinopses. E, da tua boca de amora, um "Decida-se!"
Eita..., agora me ocorreu uma quarta face da moeda. "próximo encontro", "levar doces para vovozinha", "minha ilustre companhia"... será um eufemismo singelo de "Nada de cinema desta vez, porra!"? 
Ai, meu reino interno da Dinamarca!


Ver ou não ver, pois agora virou questão.


Lobo Mauro

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

A DEFESA DE PAI (TIO) BOONMEE

Há um provérbio tailandês que diz: mais vale um pássaro na mão do que um voando sobre a sua cabeça. O que eu quero dizer com isso, sei lá! O que queria mesmo é contar a minha versão da história que andam difamando por ai.
Cheguei no Brasil após longa e cansativa carreira internacional e fui logo sendo retido na polícia federal. Entre os interrogatórios de praxe tive um sono profundo e uma revelação que mudou a minha vida. Sonhei que o interrogador era um papagaio falante que fumava um charuto. Ele me deu uns sopapos na cara e foi logo dizendo – Queres beber, cantar asneiras no esto brutal das bebedeiras que tudo emborca e faz em caco? Se pergutarem: que mais queres, além de versos e mulheres? Vinhos!...o vinho que é meu fraco! Evoé baco! Se não fossem as penas e o bico diria que era um poeta maldito.
Depois disso o papagaio saiu do puleiro e me guiou por um corredor longo até um quarto. Lá dentro uma mulata deitava o seu corpo nu em uma cama. Tinha uma rara beleza, daquelas que a gente só vê em filme. O papagaio então cuspiu o charuto e foi andando até a mulata. Chegou bem perto de sua vagina, deu uma última olhada para mim e disse – O Brasil é o país do futuro! O último é a mulher do padre – deu duas piruetas e mergulhou dentro da vagina.
Acordei assustado e percebi que esse negócio de ficar revelando o meu passado em filme tailandês laureado não fazia o menor sentido. Na verdade era muito solitária essa vida engaiolada na tela de cinema. Todo dia era a mesma chatice. Subornei os guardas com o resto do dinheiro da palma de ouro e parti para as ruas da cidade. O resto é lenda! Quem quiser saber que me procure. Agora me dedico às adivinhações e em trazer a pessoa amada em três dias.
Aguardo ansioso pelo carnaval e só volto ao cinema se for para atuar numa pornochanchada!        

Ex tio Boonmee, atual Pai Boonmee

terça-feira, 28 de setembro de 2010

AS ETERNIDADES INSTANTÂNEAS

Ver, eis a decisão.

Mas confesso estar deveras preocupado. Meu Galo despencando do poleiro, talvez por minha culpa. Afinal, sorte no amor. Assim interpreto. Pois o que uma Chapeuzinho estaria fazendo ao lado do Lobo, num terceiro encontro de dias consecutivos e indo para uma segunda sessão de outro documentário brasileiro?
Definitivamente, meu time vai pra segunda divisão caso persista minha sorte coronariana. Não há dúvidas! Qual sacrifício, pois, escolherei sofrer: a heresia futebolística ou uma paixão natimorta? Não decido, mas jogo com o destino e flerto com a sinceridade: "Boneca, desta vez não ganharemos convite para entrar." Mas a fé inabalável da Chapeuzinho me assusta: "Quem sabe você não consegue com outro amigo famoso?" Fé ou sua ironia raio-x da minha falastrice: "Olha ali dentro, aquele cara do Sportv!" Olho. É o Smeagol. Ai, meus pecados!
Mas eis que vem a teoria infalível de meus amigos rocinantes querendo se comprovar: para toda Lei de Murphy, há uma reação contrária e benévola: a Lei de Joaquim. Pois é, Joaquim aparece travestido de minha amiga, Andrea Capella, que se achega a mim depois do meu aceno. "Mauro, você veio ver meu curta!"
Mas o plano de Joaquim não cobre minha manezice: "Seu curta?" Pronto, a gafe dada de bandeja pra meu esquartejamento mais que justo. Dá pra se notar o quanto sou um cineasta-cinéfilo engajado. E tá lá a Andreinha, num sorriso sapiente. "Você veio pra ver futebol, né? Tudo bem. Mas tá aqui o convite pra você." Sem breguice, fiquei emocionado. E a farsa sobrevivia. Até quando, não sei. Rogo que até depois da Chapeuzinho se ver livre dos doces de sua cestinha.
É, a Andrea tinha razão. Fui lá pra ver 'Mario Filho'. Mas estou cá pra falar do curta dela. Quer dizer, do que ele me suscitou. Afinal, além de cineasta vadio, sou péssimo crítico. E o documentário do Mario Filho foi um gol contra. Dou azar até em jogo dentro de cinema. Com a fotografia mais confusa que o meio campo do meu time, a narrativa mais insossa que a desculpa do LuxemBurro diante de mais uma derrota do Galo, e a glorificação masturbatória tão sacal quanto a que Kalil (infelizmente, presidente do meu Galo) goza de si próprio, o filme só fica bom quando termina. Não, não é uma piada. Nos créditos finais,  gol de placa, com um repente dos entrevistados puxando cada qual o Mario Filho pro teu patriarcado clubístico. Deixasse só os créditos finais (com créditos e tudo), e essa obra se tornaria o curta mais ousado, divertido e genial do Festival.
Pois é. 'Instantâneos'.  A história do último fotógrafo de bares na Lapa. Tá assim, na sinopse. Mas o filme, de instantâneo, não tem nada. É longo, um curta eterno. Não falo da duração dos planos. Nada disso. Mas o fruir dele diz algo do tempo. Algo que não escuto, bem verdade. Certos filmes têm uma diegética pouco porosa pra que minha muito gordurosa intelectualidade consiga atravessar. Simplesmente, não alcanço o conceito. Se muito, o persigo. Mesmo assim, sei lá, alguma coisa mexeu cá dentro. Seja porque estou do lado de uma pessoa pela qual desejo muito que seja, digamos, porosa aos meus escassos, mas sinceros encantos. Ou talvez por outra pessoa que encontrei, duas vezes, antes do Odeon.
Uma da tarde, fui pra comprar os ingressos (que claro, não consegui) e aproveitar pra pegar meu yakissoba dominical no chinês lá perto do cinema. Santo yakissoba, baratinho e rende pra janta. Mas, torto que sou, acabei passando pela Senador Dantas. Rua deserta, a não ser por uma moradora de rua, sentada no chão e encostada na parede de um prédio. Uma faixa cuidadosamente amarrada na cabeça e um batom vermelho passado sem borrões. Segura um canudinho, como um microfone. Passo por ela. Uma entrevista com alguma Hebe Camargo imaginária: "Eu cheguei na casa dele e ele achava que eu tinha que dar."
Continuei caminhando. Quase gargalhando. Mas um riso com verniz de choro. O rosto daquela senhora, de uma harmonia e calma de Sidarta Gautama me impressionou. Quem era aquela mulher com cara de beata? Não, beata tem cara de louca. E aquela louca tinha cara de santa. Uma santa que trepava. Quais riquezas nos privava aquela mulher? E o fotógrafo lambe-lambe ali, revivendo em 24 instantâneos por segundo na tela do Odeon, me fazendo não entender completamente o filme, mas me entranhando de uma emergência afetiva absurdamente curiosa. Quem é esse fotógrafo que não mais caminha pela Lapa? Quem era aquela mulher, sentada na Senador Dantas, na mesma posição e cara, quando passei por ela pela segunda vez, às 3 horas da tarde? Quem é essa Chapeuzinho a meu lado,  e a quem rogo me conceder conhecê-la de novo pela primeira vez, num quem-sabe-quarto-dia? Somos sozinhos no mundo. O dente que dói em mim, só dói em mim, mesmo você sabendo da dor que já doeu no seu dente. Caminhamos pelo mundo solitariamente acompanhados. O outro. Quem é o outro? Meu tio vai chorar comigo a queda do meu Galo pra segundona. Quem é meu tio? Não sei. Mas quero chorar junto dele. Somos cada um, universo. Cada tempo, eternidades. Construímos pontes com o ar que nos separa do outro e damos um passo a frente, sempre em falso. E cada falso passo ao outro,  uma dança com o outro. Juntos, solitários. Universos paralelos que se encontram, pela geometria, só no infinito. Existe cinema após a morte?
Aperto a mão da Chapeuzinho.

Acho que estou precisando trepar.

Lobo Mauro 



segunda-feira, 27 de setembro de 2010

ESSE FILME NÃO É UM A UM

Nesse último domingo chuvoso não fui ao Maracanã. Tão pouco ao Engenhão, arena a que nos condenaram pelos próximos anos.
Guardei os foguetes, enrolei as bandeiras e caminhei bovinamente rumo ao cinema para assistir a... Mario Filho, o criador das multidões (de Oscar Maron).
O bom leitor já deve ter adivinhado que vira e mexe o futebol vai brotar nas entrelinhas de um blog que devia ser sobre cinema. Respeitamos as nossas verdadeiras obsessões.
Aos que nunca foram mordidos pelo bichinho do torcedor e acham todo esse engajamento ‘uma absurda perda de tempo dessa gente alienada’, peço desculpas pela profusão de metáforas boleiras que vão tomar conta do resto do texto. Não consegui resistir à óbvia tentação de fazer um paralelo entre a experiência da arquibancada e a da poltrona de cinema em um filme sobre o maior cronista da pelota.
Então, taí o que você queria (ou não)!
Primeira surpresa da partida. O jogo preliminar é melhor que o principal. O delicado e preciso curta da Andrea Capella foi bem mais interessante do que o longa que veio a seguir. Instantâneos é um sutil ensaio sobre a duração, o tempo e outras questões profundas que não cabem no raso desse meu texto que bate na canela. Deixo as boas críticas pra gente mais inteligente.
Quanto ao longa, meu amigo Roberto tem razão quando diz (inspirado no próprio Mário Filho) que uma partida de futebol pode entrar para a história pelos seus minutos finais. Mas acho que essa regra não vale pro cinema.
Durante toda a projeção de Mario Filho, a gente é obrigado a assistir a uma modorrenta narrativa feita de uma série de toquinhos laterais e recuos de bola que só um Parreira poderia se orgulhar de ter inventado. O filme gira, gira e não chega a lugar nenhum. A vontade na platéia era gritar: “Verticaliza, desgraçado!” “Chuta, pelamordeDeus!”
Aliás, se a gente pudesse gritar no cinema a coisa ia ficar bem mais divertida. “Bota um ponta, Oscar!”
Mas nem isso resolve. Quando o filme tenta alguma firula o negócio fica ainda mais estranho. É como se tivessem escalado o Denílson na seleção da Suíça. Não cola.
Na falta dos apupos da torcida, as cabeças pendentes nas cadeiras davam a medida do efeito do filme. Tudo fazia lembrar um tremendo zero a zero.
Eis que, já nos acréscimos, esperando o apito do juiz, surge o grande lance. O filme consegue, numa jogada improvável, reinventar o Fla-Flu do coração de Mario Filho. E as multidões despertaram já nos créditos finais.
Realmente genial e memorável. Mas o blasfemo filme de Maron contradiz a teologia boleira cujo Gênesis rodriguano adverte: o Fla-Flu acontece antes do nada. O Fla Flu começa 40 minutos antes do Big Bang. Não depois do juízo final.
Confesso que a deliciosa montagem sobre o verdadeiro time de coração do Mario Filho vai render uma boa conversa de boteco. Mas desconfio de um filme que funcionaria melhor numa edição dos grandes momentos da rodada. Com direito às boas piadas do Tadeu Schmidt e à ‘voz marcante de Léo Batista’.

Aurélio Aragão

A DESCOBERTA

Penso que diante do relato luxurioso do amigo Robalinho, Tio Boonmee finalmente conheceu o Mal dos Trópicos.

Roberto Souza Leão

TIO BOONMEE AGORA VÊ O FUTURO

Parece que as ciganas das marrecas deram um jeito no pobre do tio Boonmee. Depois de uma noite oracular regada a perversões impublicáveis e muitas doses de caipirinha o tio largou esse negócio de cinema. Não vai mais contar o seu passado em um filme tailandês. Dizem que abriu uma banca na esquina da Uruguaiana com a Nossa Senhora do Rosário e agora atende por Pai Boonmee. Traz a pessoa amada em cinco dias e prevê o futuro, número da sorte e resultado de futebol. Depois das ciganas largou o passado definitivamente e agora só lida com o futuro. Pois é os “boonmee” tempos acabaram!

Roberto Robalinho

O FURO DO TIO

Ao que parece Tio Boonmee não recordará suas vidas passadas amanhã no Odeon. As informações que chegam dão conta de que Tio Boonmee foi surpreendido por uma trupe de ciganas ninfomaníacas que fazem ponto na Rua das Marrecas. O ataque teria acontecido no sábado a noite, quando Tio Boone voltava do samba da Ouvidor.
Esperamos que Tio Boonmee volte o quanto antes para que possa socializar suas memórias conosco.

Roberto Souza Leão

AOS 45

Meu velho sempre dizia que em matéria de Botafogo é sempre bom esperar o apito final. Sinto às vezes que isso também vale para o cinema. Hoje foi dia de comprovar as duas teses.

É preciso um árduo trabalho de auto-convencimento para sair de casa às 14h, numa tarde que conjuga chuva e ressaca. Ainda mais quando a ressaca além de física é também moral. Mas a vontade de encontrar os comparsas e assistir ao filme da amiga Andrea Capella valem o esforço.

Mas ninguém sai de casa para assistir a um filme sobre o Mario Filho sem que algo de extraordinário aconteça. Ao mitômano, o mito. E ele aparece cercado de louras esculturais e morenas rebolativas. Caminhando na minha direção, lembra Henry Fonda em direção a câmera na lembrança dolorosa de Charles Bronson em “Era uma vez no Oeste”. Baixo, tranqüilo e marrento. Ele anda com as pernas levemente arqueadas e de um jeitão meio displicente. Um andar chato. Quando enfim tirei os olhos da loura que acompanhava a comitiva, pude reconhecer que quem sentaria no melhor galeto da Tijuca era ninguém menos que Romário. Às tardes de domingo para o outrora gênio na pequena área é dedicado a um outro tipo de corpo a corpo.

Mas o tempo urge. A pouca empolgação do amigo trilheiro diante do mito que acabara de sentar a minha frente me obriga a seguir em frente. Precisava cumprir minha rotina diária de atrasos. Cheguei a tempo de pegar os minutos finais de “Instantâneos”. Pensativo diante do belo registro do fotógrafo errante da Lapa, pergunto ao amigo do lado: “O Gaúcho está na sessão?”. “Morreu há alguns meses”. Resta o consolo de ter sido registrado uma vez pela elegante figura.

A projeção do longa sobre Mario Filho decepciona. O recurso da autoridade não revela o Mario Filho mais interessante. Um João Havelange protocolar, um Sergio Cabral despojado (Ufa! Dessa vez não teve Nelson Motta!), o documentário transita trôpego entre um registro mais livre num esboço ensaístico e um relato historicizante. No meio de tudo, não consegue ser nada. Resta o enfado de um narrador sublinha desnecessariamente a dramaticidade do texto de Mario Filho. As imagens de arquivo revelam um Luxemburgo aguerrido, um Leônidas envelhecido e um Mazaropi azarado. Mas ao final da projeção, o imponderável. Num depoimento histórico do neto, se revela um Mario Filho que o filme deixou de lado. Um Mario Filho que estava latente na fala de Carlos Heitor Cony, mas que era sempre recolocado a sua condição de Gilberto Freyre do esporte Bretão. Uma pena. Tivesse o filme descoberto que o personagem acontece nessas entrelinhas, teríamos um belo filme. Aos 45 minutos, uma luz no fim do túnel, breve, mas intensa.

Filme devidamente debatido, argumentos expostos, os amigos vão aos poucos deixando o bar onde se sentaram para decidir, entre outras coisas, o nome deste blog. Uma incômoda sensação de que deixei o gás ligado não me deixa relaxar. Não posso explodir a minha residência com tão pouco tempo. Mas o amigo, que me dera a triste notícia do falecimento do Gaúcho espera o momento certo para desferir um golpe final. “Quer ver você parar de pensar no gás do banheiro? O Atlético-PR acabou de empatar com o Botafogo.” Incrédulo fui ao bar do lado e me certifiquei da tragédia. Aos 45, a estrela solitária já não brilha tão intensamente. Ao menos a vizinha de baixo pôde fazer o seu chá de carqueja sem explodir a vizinhança.

Roberto Souza Leão

DIÁRIO DE UMA BUSCA AMOROSA

Era pra ser sexta-feira, dia 24. Mas só deu na segunda, madruga, dia 27

Coisas estranhas acontecem no meu reino interno da Dinamarca. Depois de matar a primeira reunião editorial tardia deste Guia de Cego, cabulando também sessões do festival pra tentar uma quixotesca conquista de uma paixão morena, num primeiro encontro na boate Six, lá na rua das Marrecas (afinal, meu Galo tá indo pra segunda divisão e exijo, pois, a contrapartida da sorte no amor), recebo um email inusitado. E da VideoFilmes e companhia! É, estou tirando onda. Pensando bem, não passa de uma marolinha, mas que se configurou numa chance extraordinária d'eu camuflá-la em tsunami aos olhos oblíquos da minha Chapeuzinho Vermelho.
Eis a mensagem: "Tambeline Filmes, Les Films du Poisson e Videofilmes convidam para a Sessão de Gala (ai, meu Galo) da Première Brasil do filme (...)"

corte narrativo-mnemônico: nesta hora pensei que, sei lá, o João Moreira Salles olhou em alguma lista escusa e mandou o recado: 'O Mauro Reis tem que ir!'. E que, claro, o tal era meu homônimo mais famoso (podem digitar no google):
um ator.
Pornô.
Gay.

Ou seja, seria barrado na entrada e minhas recém-nascidas penas de pavão defenestradas diante da Chapeuzinho Vermelho tropical. Ai, meus pecados!
Mas a mensagem assim continuava: "(...)'diário de uma busca', de Flavia Castro. Sábado, dia 25 de setembro, às 17horas, Cine Odeon"
Uau! Nossa, que gesto generoso. Flavia e eu (hora do auto-merchandising) vencemos um edital de roteiro de longa da Secretaria Estadual de Cultura e, sorte minha, trocamos alguns emails na tentativa de desbravarmos a burocracia de uma prestação de contas. E lá estava ela, prestando esse imenso ato de carinho pro mané aqui.
Oba, dava pra continuar com meu propósito de mentir descaradamente pra minha amada vítima: eu era o tal! Mas, carambolas, quem teria a idéia de, num segundo encontro amoroso, levar sua pretendente pra assistir um documentário brasileiro? Só uma besta quadrada como eu, né. Tremi. Mas não dava pra regatear. Tava lá o tapete vermelho, cor do meu sangue pulsante de neuroses derrotistas, como uma língua a engolir meus sonhos de boa-venturança.
Vixi Maria! E a fila pra entrar parecia uma pororoca de vários afluentes. E eu e a Chapeuzinho ali, a deriva no festival deste Rio caudaloso. Quando finalmente desconfiamos nosso lugar na fila, nos raptam para uma foto promocional. Meu cabelo rasta é ímã pra esses micos. Beleza, pensei, meu naufrágio amoroso estará registrado. Lobo ao mar! Lobo ao mar!
Oh!, destino do Poseidon foi nos colocar em duas cadeiras laterais, nem tão sãos, mas salvos. E, gente! Aparece lá o meu ídolo, Eduardo Coutinho. Aponto pra Chapeuzinho o velhinho, que ela desconhece solenemente. Chega também o João Moreira Salles. Não aponto. Vai que a hipótese do Mauro Reis famoso se concretize?
E começa, antes, um curta de ficção. É... isso pode me ajudar a descontrair a Chapeuzinho. Mas, qual o que! Que nhaca era aquela? 'Simpatia do Limão', um curta antipático sobre uma cartomante farsante. Nunca vi nada tão ruim desde um outro curta também de cartomante, com o seguinte título imbecil: 'Bulbo: parte do eixo cerebrospinal, sede de importantes centros neurovegetativos, como o do centro de controle cardiorrespiratório", que, a propósito, eu escrevi e dirigi. Uma bosta.
Naufraguei-me mais uns centímetros na cadeira, reparando de soslaio o semblante nada animador da Chapeuzinho. Ainda mais quando aparece o personagem Rodrigão, 1 metro e oitenta de canastrice. Fico a imaginar o coitado do Coutinho sendo obrigado a ver aquele cabra marcado pra correr semi-nu, na praia. Eita!
Mas quem nos salva? Flávia Castro, novamente. Filme emocionante, corajoso, bonito e que, outra virtude inusitada, preserva minha tentativa de Don Juan da Carochinha.
De toda forma, pode ter sido por um fio. E fico cá a pensar se arrisco de novo minha possibilidade de amor durante o festival.
Ver ou não ver, eis o que nem sei se é questão.

Lobo Mauro