domingo, 3 de outubro de 2010

A MULHER DO LADO

Quinta-feira a noite.
Pois é, a Chapeuzinho teve uma queda para o ‘Homem do Lado’. Confesso nervoso, de início. Overdose de cinema para um contexto acasalamentador. Mas não é que o safadinho do filme começa muito bem? O plano inicial é surpreendente: enquadramento metade esquerda iluminada, metade direita na sombra. E fica assim, imagem fixa. Até a gente continuar pensando: que raios é isso? Penso ser o fim de um muro branco, numa esquina, o que explicaria a outra metade escura. E minha possível metade ali, do meu lado, rosto oculto na penumbra dos meus sonhos.
Pow! Na metade negra do quadro, uma marretada. Pow! Um machucado se abre. Ah, meu coração. Pow! Entendi. O buraco em que será colocado a janela. Pow! Uma cicatriz reverberada na parede branca iluminada. Pow! Eita, nada disso. Num mesmo quadro, interna e externa. Duas câmeras criando um mesmo plano. Pow! E o parto de um buraco, visto ao mesmo tempo fora e dentro. Único momento do filme no interior da casa do vizinho, útero de uma história com cordão umbilical intacto.
Filme cheio de graça, com soluções de enquadramentos beirando o genial. E, nos momentos em que minha verve besta de cineasta começa a tecer idéias de que a história começa a desandar, os risos mal contidos da Chapeuzinho me dão um tapa: nenhum filme pode ser ruim se faz um amor sorrir.
Viva a Argentina. ‘O Homem do lado’ tirou Chapeuzinho para bailar. Minha relação tango ainda sobrevive aos meus passos de samba.

Lobo Mauro

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