tag:blogger.com,1999:blog-83549552917940125702023-06-21T02:05:49.736-03:00Guia de CegoUm guia do Festival do Rio todo feito de desviosGuia de Cegohttp://www.blogger.com/profile/01206290322009863662noreply@blogger.comBlogger33125tag:blogger.com,1999:blog-8354955291794012570.post-71020855999580238262012-10-08T18:32:00.000-03:002012-10-08T18:39:19.333-03:00WHAT'S YOUR FAVORITE SCARY MOVIE?<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<iframe allowfullscreen='allowfullscreen' webkitallowfullscreen='webkitallowfullscreen' mozallowfullscreen='mozallowfullscreen' width='320' height='266' src='https://www.youtube.com/embed/LWxSBbBX4fs?feature=player_embedded' frameborder='0'></iframe></div>
<span style="font-family: Times, Times New Roman, serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Times, Times New Roman, serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Times, Times New Roman, serif;">Sábado, meio-dia. Toca o telefone.</span><br />
<span style="font-family: Times, Times New Roman, serif;">- Alô, Mauro? Tô indo comprar uns ingressos agora, mas tô completamente por fora. Qual é a boa de hoje?</span><br />
<span style="font-family: Times, Times New Roman, serif;">- Do you like sacary movie, mané? Meu caro, não tem que pensar. Crava Halloween, sessão histórica de meia-noite!</span><br />
<span style="font-family: Times, Times New Roman, serif;">- Porra! Boa pedida.</span><br />
<span style="font-family: Times, Times New Roman, serif;">- Ah! Cersósimo, aproveita e compra pra mim também. Te pago meia-noite.</span><br />
<span style="font-family: Times, Times New Roman, serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Times, Times New Roman, serif;">Vinte e três horas e quinze minutos. Saio eu de uma sessão sapeca iaiá do filme Killer Joe. Toca o telefone.</span><br />
<span style="font-family: Times, Times New Roman, serif;">- Maurão? Cara, é o seguinte: consegui agora dois ingressos de grátis para o show do Paulinho da Viola, no Circo Voador. Tá indo eu e minha namorada...</span><br />
<span style="font-family: Times, Times New Roman, serif;">(Putz, só pode ser uma killer joke, penso)</span><br />
<span style="font-family: Times, Times New Roman, serif;">-...Maurão, tá aí? Oh, já estamos dentro do taxi, aqui perto do shopping. Tenho que dar seu ingresso. Ah, se você conseguir vender os meus... uma inteira e uma meia.</span><br />
<span style="font-family: Times, Times New Roman, serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Times, Times New Roman, serif;">Foi-se o restolho da minha dignidade. Tomei bolo de amigo nerd! Pergunto a você leitor dessa minha desdita: entre uma sessão de cinema sanguinolenta do Carpenter (repleta de nerds punheteiros) e um show romântico 0800 do da Viola acompanhado de lambidas no cangote de sua namorada, qual você escolheria? Claro, eu sei! Nem eu nem você temos a menor dúvida: Halloween, porra!</span><br />
<span style="font-family: Times, Times New Roman, serif;">Mesmo sendo exibido com uma cópia em película cor de abóbora e mais riscada que as felizardas vítimas de Michael Myers. </span><span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;">Que o digam os dois camaradas que saíram no tapa pra comprar os ingressos na minha mão.</span><br />
<span style="font-family: Times, Times New Roman, serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Times, Times New Roman, serif;">A propósito, essa grana dos ingressos do Cersósimo, vulgo Roberto Souza Leão, ainda está comigo. Tá aqui, do meu ladinho, tô olhando pra ela agora enquanto escrevo essa missiva impossível.</span><br />
<span style="font-family: Times, Times New Roman, serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Times, Times New Roman, serif;">Tô matutando se devo, não nego.</span><br />
<span style="font-family: Times, Times New Roman, serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Times, Times New Roman, serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Times, Times New Roman, serif;">Lobo Mauro</span><br />
<span style="font-family: Times, Times New Roman, serif;"><br /></span>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<iframe allowfullscreen='allowfullscreen' webkitallowfullscreen='webkitallowfullscreen' mozallowfullscreen='mozallowfullscreen' width='320' height='266' src='https://www.youtube.com/embed/-c8jJRekwbA?feature=player_embedded' frameborder='0'></iframe></div>
<span style="font-family: Times, Times New Roman, serif;"><br /></span><span style="font-family: Times, Times New Roman, serif;">(P.S.: roubei o vídeo do facebook do Fernando Toste. Na cara de pau, mesmo)</span>
<span style="font-family: Times, Times New Roman, serif;"><br /></span>Guia de Cegohttp://www.blogger.com/profile/01206290322009863662noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8354955291794012570.post-23356048875698542132012-10-04T16:56:00.001-03:002012-10-04T16:56:17.631-03:00A GATA DA HORA <div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Leio a sinopse do último filme do William Friedkin e quase acho que é uma matéria de capa do jornal Meia Hora. Algo do tipo, “playboy faz dívida na boca bota a mãe na roda”, ou “ficou queimado e passou fogo na mãe”. A verdade é que ao final da projeção de Killer Joe, fiquei com uma impressão de ter assistido a versão texana do Cidade Alerta. Tudo no filme me soa um tanto quanto histérico demais. Personagens meio loosers destilando violência e humor negro. Um assassino de aluguel da linha caipira-cool, mau feito um pica-pau. Tenho a nítida impressão de já ter visto isso em algum lugar. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"></span></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><div style="text-align: justify;">
<br /></div>
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Antes que algum arauto do bom gostismo me interpele, vou logo dizendo que sou um admirador do trabalho de Friedkin. Gosto de <em>O Exorcista</em>, <em>Operação França</em>, da refilmagem de <em>12 Homens e uma sentença</em> e daquele filme cafona dos anos 80, <em>Viver e Morrer em L.A</em>. Em <em>Possuídos</em>, um de seus últimos trabalhos, me impressiona aquela atmosfera de tensão em um ambiente claustrofóbico. E não nos esqueçamos, em <em>Possuídos</em> tínhamos Ashley Judd. Opa! Então, quase que de supetão, abandono o filme, e me permito ser arrebatado pelos grossos lábios de Gina Gershon. Fico rememorando a sua belíssima entrada em cena. A origem do mundo bem na cara de Emile Hircsh. Ainda que a bela Juno Temple inspire os instintos mais afetivos e protetores, Gina é a razão de meus aplausos. </span></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><div style="text-align: justify;">
<br /></div>
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Foi o suficiente para me deixar devanear pelas melhores primeiras cenas femininas da história do cinema. Sonhei com Nicole em <em>De olhos bem fechados</em>, vibrei com Scarlet, em <em>Encontros e desencontros</em>. Nesses momentos, aqueles minutos de bunda quadrada na poltrona parecem valer à pena. Acho que nunca soube o que é o cinema de fato, mas provavelmente seu verdadeiro sentido deve estar escondido por debaixo do espartilho de Claudia Cardinale em <em>Era uma vez no oeste</em>. Isso, nem mesmo o gosto de frango frito com molho barbecue consegue estragar.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;">Roberto Souza Leão, vulgo Cersosimo</span></div>
<br />
Guia de Cegohttp://www.blogger.com/profile/01206290322009863662noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8354955291794012570.post-21286615769826842612012-10-03T23:01:00.001-03:002012-10-04T16:59:24.780-03:00DO ESTÁCIO À NOVA IORQUE E VICE E VERSA<style>
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<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Arial; mso-ansi-language: PT-BR;">Qual a relação entre o bairro do Estácio no Rio e Nova Iorque? Nenhuma, ou todas aquelas que a gente inventa. Na sexta passada fui assistir ao filme A <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Dama do Estácio</i> de Eduardo Ades e de certa forma esbarrei na “grande maçã” no caminho do cinema. Sem ingresso para o filme e desolado pela própria estupidez dos que não conseguem ingresso, me encaminhei para a única alternativa, beber uns copos. Na solidão da encruzilhada entre os bares próximos ao Baile Charme e ao Teatro Rival, com os fãs de Death Metal, decidi ir até o Amarelinho na esperança de encontrar algum rosto amigo para repousar a frustração de não poder ver o filme.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Arial; mso-ansi-language: PT-BR;">Eis que lá encontro um casal de amigos que acabavam de descobrir que iriam passar um ano em Nova Iorque. Brindamos eufóricos o máximo de vinho possível e enquanto cantávamos <i style="mso-bidi-font-style: normal;">New York, New York</i> em trio desafinado, tomei coragem para tentar a sorte por ingresso na porta do cinema. Me despedi com ares de Fred Astaire tropical e saí em direção ao cinema entoando a estrofe da canção como um Frank Sinatra tísico. E como diz a canção - eu e meus sapatos vagabundos estão aqui para ficar! Surrupiei uns ingressos da produção do filme e me juntei à turba na porta do Odeon.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Arial; mso-ansi-language: PT-BR;">De resto posso dizer de imediato que o filme do Eduardo Ades é muito bonito. E ainda embalado na comparação esdrúxula entre o bairro carioca e a metrópole americana, me lembrei da imagem que um escritor uma vez cunhou ao chegar em Mahattan de navio, a de como seriam as ruínas daqueles arranha-céus daqui a mil anos. Bom, posso dizer que em relação ao Estácio pude experimentar suas ruínas marcadas no corpo e na luz projetada na tela. O filme <i style="mso-bidi-font-style: normal;">A Dama do Estácio</i> é uma elucubração sobre o que teria acontecido com a personagem Zulmira do filme <i style="mso-bidi-font-style: normal;">A Falecida</i> de Leon Hirszman realizado em 1965. Este é o primeiro filme da Fernanda Montenegro e ela está lá de volta mais uma vez encarnando a Zulmira. A potência da atriz, da personagem quase cinquenta anos depois é impressionante. A voz, o movimento do seu corpo no quadro, as rugas no rosto, a mesma obsessão pela morte, marcam a passagem do tempo, mas ainda é possível vislumbrar um passado. Há ali na tela o filme do Leon, mas também o filme do Ades, há a mesma atriz que já não é mais a mesma e uma cidade que também já é outra. É neste espaço nebuloso, entre os tempos idos e o presente, que o filme habita. O próprio filme funciona como ruínas de um filme, de uma atriz, de uma cidade, com toda a potência poética e reflexiva que as ruínas nos trazem para pensar o presente. E claro, o filme não deixa de ser uma celebração do cinema, de uma atriz e do bairro do Estácio – um certo modo de ser carioca. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: 'Times New Roman'; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Cambria; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">Às favas Nova Iorque, fico com o Estácio onde os personagens do cinema de outrora ainda podem viver seus desejos mais loucos.</span> <br />
<br />
Roberto Robalinho <br />
<br />
Link para trailer do filme <i>A Dama do Estácio</i>: <a href="http://vimeo.com/48777089" target="_blank">http://vimeo.com/48777089</a>Guia de Cegohttp://www.blogger.com/profile/01206290322009863662noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8354955291794012570.post-21351689433285890132012-09-30T19:24:00.000-03:002012-10-02T18:28:13.423-03:00A VERDADEIRA CINEFILIA<style>
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</span><br />
<div class="MsoNormal">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">João da Luz, ou apenas luz
para os amigos, sofria de um mal intermitente. De tempos e tempos sentia uma
vontade incontrolável de ir ao cinema. Não sabia bem porque, mas o fato é que o
falo, o seu é claro, só ficava duro no cinema.</span></div>
</div>
<div class="MsoNormal">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Talvez
isso tivesse uma origem distante na infância quando sua mãe o levava ao cinema
toda segunda a tarde.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Lembrava do
calor modorrento do subúrbio e os conselhos da mãe antes de cada sessão – não
ponha todos os caramelos na boca, se não engasga. Me espere na saída, tenho um
assunto a tratar e talvez atrase. E não esqueça, se teu pai perguntar, assisti
ao filme ao seu lado. E dito isso, sumia na convulsão da rua enquanto ficava a
imaginar o seu paradeiro. E assim, a tarde no Cine Marajá se misturava as vedetes
do cinema e a uma angústia dos sumiços temporários da mãe.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Rita Hayworth acendia um cigarro lânguido
enquanto sua mãe sumia na multidão, e as pernas da Virginia Lane cruzavam sobre
o seu olhar de despedida.</span></div>
</div>
<div class="MsoNormal">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Na
adolescência já tinha tomado gosto pelas escapadelas matutinas cinematográficas
e, sem que a mãe o levasse, sempre arranjava tempo para uma sessão ou outra.
Era um refúgio da vida besta em que por um breve tempo podia ser tomado por
grandes aventuras.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Sentia que era
verdadeiramente possuído pelo cinema e que só recuperava seu verdadeiro e medíocre
eu alguns minutos após a sessão. Caminhava pela zona norte como um herói capaz
de vencer os infortúnios do mundo, até que lentamente o mundo ia entrando de
volta ao corpo e a realidade ia se impregnando à pele.</span></div>
</div>
<div class="MsoNormal">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Foi
em uma sessão dessas que viu seu primeiro par de seios. E de novo, como no caso
da mãe, essa lembrança se misturava a luz refletida na tela, e talvez, na aparição
das tetas, teve o presságio de sua condição. Esperava na sua cadeira entre uma
sessão e outra quando a moça que arrumava a sala se curvou na fileira da frente
para catar algum resto. E ali, emoldurada pela tela ao fundo, conectando de
alguma maneira os dois mundo, tela e sala, um botão aberto revelava o seio róseo,
primeiro um e depois o outro. Passou um tempo vendo o filme em duas sessões,
interligadas por aparições momentâneas de seios. Percebeu que ali, nesse vão
entre a tela e a sala, havia uma fonte inesgotável de pulsações. E começou a
procurar mais do que seios e logo foi percebendo em outros cinemas, outras sessões,
outros bairros, mãos, pés, pernas, bocas, bundas, até que um dia seu corpo foi
de encontro a outro, e sua língua pode tocar o céu da boca de outra mulher. Um
passo para que o pau pudesse enfim viver a glória rápida dos virgens e se dessacralizar
no espaço sagrado de uma vagina. Depois daquele filme nunca mais foi o mesmo, e
sentiu que a possessão comum após o cinema perdurou durante um bom tempo, de
forma que parte do herói ficava guardado dentro de si. </span></div>
</div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Hoje
vive essa busca, de cinema em cinema, filme em filme, por uma mulher inteira
que dê um sentido total a sua existência. Seria sua última sessão de
cinema,<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>e quiçá da vida. Sua vida
amorosa se resume a esses fragmentos de filmes, e de mulheres, cada um
encravado em algum lugar de seu corpo, tatuagens luminosas de gozos, paixões,
desilusões e amores. Sua vida foi uma genealogia cinematográfica sexual e
sentimental - no Roxy amou perdidamente, no Palácio pode ser um verdadeiro
canalha, no Métro experimentou longos anos de uma paixão platônica, no
Imperator o primeiro amor, no Veneza a primeira desilusão. Enfim, de fotograma
em fotograma, fez-se homem.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Roberto Robalinho </span></div>
Guia de Cegohttp://www.blogger.com/profile/01206290322009863662noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8354955291794012570.post-57639872222048358992012-09-30T16:08:00.000-03:002012-10-02T18:28:35.863-03:00FUGA DO RYO DE JANEYRO<!--[if gte mso 9]><xml>
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<br />
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Desvirginar no Festival com Spike Lee e John
Carpenter em NY, oh yeah! E fuga é um tema recorrente nos <a href="http://www.imdb.com/title/tt1989593/" target="_blank">'Verão em Red Hook'</a> e
<a href="http://www.imdb.com/title/tt1989593/" target="_blank">'Fuga de Nova York'</a>. Flik Royale, o garotinho moicano do filme do Spike Lee já
chega no Brooklyn querendo partir. Um dos personagens ainda acha estranho que o
pastor, avô do Flik, tenha vindo do sul para NY, cidade cada vez mais cara. E
cá penso, olhando para meu comprovante de 18 reais do ingresso, que Ryo de
Janeyro tá pra lá da ponte do Brooklyn. E o Verão de Spike segue agradavelmente
Lee, muito mais leve que esse outono invernal carioca, quando... putz! Não vou
falar, vejam. Se não agora, quando estrear no circuito comercial.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Saí atordoado do filme, com sede de algo mais
leve, mais fofo, pra abrandar os corações. E, oras, na falta de Chuck Norris,
nada mais calmante do que Snake Plissken dando porrada!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Por sorte, encontrei o Ursinho Ted na saída
do cinema. Coincidência das boas, teria companhia. Sei que dá dó gastar uma
inteira naquela meia-sala do Botafogo 3, mas caramba!, trata-se de um dos meus
ícones adolescentes televisivos. Entramos na saleta quase meia-noite e o Ted já
solta: 'Dá só uma sacada: só tem punheteiro nerd!'. Concordei meneando a cabeça
acompanhada de uma coçadela inconsciente do saco. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Agora, o que fugiu mesmo nas duas sessões foi o som. Snake
sibiliva. Poxa, o Guia é de Cego mas nem o Ted conseguia escutar. E a telinha
da saleta, naquela exibição escura de DVD, tornava a Nova York sitiada
grandiosa da minha memória menor que a Ilha Fiscal. Nisso, olho para o lado. Ted estava... estava... se
masturbando feito mulher? 'Que foi?', Ted bradou mais alto que o The Duke,
'nunca viu um eunuco de pelúcia tirar uma bronha?'. Ergo os ombros
inocentemente. E Ted me segreda no ouvido: 'Esse
Kurt Russel até que tem uma bunda gostosa, hein!'. Olhei no fundo dos olhos de
plástico de Ted: resplandeciam sinceridade. Foquei então no decote grande
angular de Adrienne
Barbeau, que fez cabelo e bigode da minha libido, e pensava: Flik Royale é mais
marrento que Snake Plissken e Neymar juntos.<span style="mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;"><o:p></o:p></span></span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br />
Lobo Mauro</span></div>
<!--EndFragment--><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br />
</span><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<iframe allowfullscreen='allowfullscreen' webkitallowfullscreen='webkitallowfullscreen' mozallowfullscreen='mozallowfullscreen' width='320' height='266' src='https://www.youtube.com/embed/ckvDo2JHB7o?feature=player_embedded' frameborder='0'></iframe><object class="BLOGGER-youtube-video" classid="clsid:D27CDB6E-AE6D-11cf-96B8-444553540000" codebase="http://download.macromedia.com/pub/shockwave/cabs/flash/swflash.cab#version=6,0,40,0" data-thumbnail-src="http://2.gvt0.com/vi/Us_Ax1h2eYY/0.jpg" height="266" width="320"><param name="movie" value="http://www.youtube.com/v/Us_Ax1h2eYY&fs=1&source=uds" /><param name="bgcolor" value="#FFFFFF" /><param name="allowFullScreen" value="true" /><embed width="320" height="266" src="http://www.youtube.com/v/Us_Ax1h2eYY&fs=1&source=uds" type="application/x-shockwave-flash" allowfullscreen="true"></embed></object></div>
Guia de Cegohttp://www.blogger.com/profile/01206290322009863662noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8354955291794012570.post-56521036419006696422012-09-29T22:15:00.001-03:002012-10-02T18:29:07.741-03:00NÃO EDITORIAL 2<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">O trança-pés desenfreado da Rua Voluntários da Pátria
não deixa dúvidas: é tempo de Festival de Cinema no Rio de Janeiro. E com ele,
um frenesi toma conta da cidade, todos em busca do melhor filme de todos os
tempos da última semana. Para você que não sabe o que assistir nesse emaranhado
de filmes, o blog Guia de Cego vai ajudá-lo a permanecer na dúvida. Após um ano
de interregno, os quatro cronistas mais improváveis do Rio de Janeiro estão de
volta para breves relatos sobre filmes e tudo aquilo que está além deles.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">As belas coxas da atriz venezuelana, o acepipe
degustado na entrada do cinema ou a estridente gargalhada do careca da segunda
fileira. Dos coletivos abarrotados nas idas, ao metrô solitário das voltas. Os
temas e cenários das resenhas serão os mais diversos, mas terão como
denominador comum o despojamento e bom humor. Mais que assistir ao filme é
preciso vivê-lo. Então, ergam vossas bengalas e deixem-se tropeçar nos
percalços do caminho. </span></div>
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Guia de Cegohttp://www.blogger.com/profile/01206290322009863662noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8354955291794012570.post-11164840331643154962010-10-13T18:48:00.003-03:002010-10-13T18:52:08.919-03:00HOJE EU VOU TOMAR UM PORRE, DE ACETATO E POLÍMERO<div class="MsoNormal"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Quando um lobo vira besta, se apaixona e sua neurose lupina lhe segreda grandes chances do seu rabo ficar entre as pernas, o que geralmente se faz? Toma-se um porre. E foi minha sábia decisão. Comprei cinco ingressos antecipados, on the rocks, pra três dias. Sozinho, sem a Chapeuzinho. Tá, tudo bem, não sou lá um bebum que mete medo, mas pra meus parâmetros, boemia, aqui me tens de regresso. <o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Destes cinco filmes, quatro de um tal de <b><i><span class="Apple-style-span" style="font-family: Verdana, sans-serif;">Bruno Dumont</span></i></b>. Francês. Desconhecia. Grande surpresa, o que me relembra, coincidência, do festival passado, outra francesa: Claire Dennis. Engraçado que a França e seus filmes premiados em Cannes (<b><i><span class="Apple-style-span" style="font-family: Verdana, sans-serif;">Of God a men</span></i></b>, <b><i><span class="Apple-style-span" style="font-family: Verdana, sans-serif;">Ano Bissexto</span></i></b>) decepcionaram bombasticamente.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Eis os filmes assistidos, nessa ordem: '</span><span class="Apple-style-span" style="font-family: Verdana, sans-serif;"><b><i>A Vida de Jesus', 'Flandres', '29 Palms', 'A Humanidade'</i></b></span><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">. Como sou imbecil, cometi um <i><b><span class="Apple-style-span" style="font-family: Verdana, sans-serif;">pecado de </span></b></i><span class="Apple-style-span" style="color: #ff6600;"><i><b><span class="Apple-style-span" style="font-family: Verdana, sans-serif;"> </span></b></i><span class="Apple-style-span" style="color: white;"><i><b><span class="Apple-style-span" style="font-family: Verdana, sans-serif;">Hadewijch</span></b></i></span></span>: meu cérebro excell cheio de bug até o colocou na planilha neural, mas fui salvo pela moça dos ingressos. "Moço, você vai assistir '29 Palms' aqui em Botafogo e, 3 minutos depois conseguirá chegar em Ipanema?" É... perdi.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Tirando '29 Palms', gostei de todos. Muito. Bruno Dumont é um cara de estilo, com sua marca registrada na violência espreitadora e na fuderola realista. Planos de xana geniais. Vaginiais!<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Mas faltou dizer o quinto elemento. De longe, o mais divertido de todo o meu festival: <b><i><span class="Apple-style-span" style="font-family: Verdana, sans-serif;">'Contos da Era Dourada'</span></i></b>. Um filme de curtas romenos. Todos muito bons, com o recorte de tirar sarro mítico da era Nicolae Ceausescu. Vale a fadiga de 150 minutos. Principalmente pelo terceiro curta, de uma possível visita da comitiva do ditador a uma cidadezinha do interior do país. Não é um curta piada, mas é também piada, daquelas genias, subversivas, cheia de entrelinhas, camadas de cebolas que nos provocam lágrimas nos olhos e construída aos poucos. O cinema veio abaixo, a risada foi pra cima. Ecoou pra depois da sessão na minha caminhada de volta.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Só parou quando descobri que tinha um outro filme que deveria ter assistido. Um do <b><i><span class="Apple-style-span" style="font-family: Verdana, sans-serif;">Woody Allen</span></i></b>! Não... eu assisto filmes do festival me baseando mais naqueles que não vão entrar em cartaz. Mas é que, bendito torpedo abatedor, Chapeuzinho me diz que foi ao cinema a convite da vovozinha. E, claro, os ingressos já estavam esgotados. Mas ela me consola: "Sabe o nome do filme, Lobo? <b><i><span class="Apple-style-span" style="font-family: Verdana, sans-serif;">'Você vai conhecer o homem dos teus sonhos'</span></i></b> "<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Uau! Mas a pulga atrás da minha orelha decidiu realizar uma festa de arromba, convidando várias outras: a Chapeuzinho ainda VAI conhecer o homem dos sonhos dela? Ela sonhou o meu sonho e o Caçador Pai Boonmee tá rondando a floresta? Afinal, essa minha história da Chapeuzinho segue a narrativa da comédia, comédia romântica, drama, suspense, melodrama ou é um experimental pós-contemporâneo da porra?<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Só rezo, para a lua, que não seja um conto da carochinha. </span><i><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><o:p></o:p></span></i></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><br />
</div><div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><br />
</div><div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><br />
</div><div class="MsoNormal"><br />
</div>Guia de Cegohttp://www.blogger.com/profile/01206290322009863662noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-8354955291794012570.post-28400748203606315882010-10-10T20:44:00.000-03:002010-10-10T20:44:32.338-03:00ENTRE SAFRA DE JORNALISTAS<!--[if gte mso 9]><xml> <w:WordDocument> <w:View>Normal</w:View> <w:Zoom>0</w:Zoom> <w:TrackMoves/> <w:TrackFormatting/> <w:HyphenationZone>21</w:HyphenationZone> <w:PunctuationKerning/> <w:ValidateAgainstSchemas/> <w:SaveIfXMLInvalid>false</w:SaveIfXMLInvalid> <w:IgnoreMixedContent>false</w:IgnoreMixedContent> <w:AlwaysShowPlaceholderText>false</w:AlwaysShowPlaceholderText> <w:DoNotPromoteQF/> <w:LidThemeOther>PT-BR</w:LidThemeOther> <w:LidThemeAsian>X-NONE</w:LidThemeAsian> <w:LidThemeComplexScript>X-NONE</w:LidThemeComplexScript> <w:Compatibility> <w:BreakWrappedTables/> <w:SnapToGridInCell/> <w:WrapTextWithPunct/> <w:UseAsianBreakRules/> <w:DontGrowAutofit/> <w:SplitPgBreakAndParaMark/> <w:DontVertAlignCellWithSp/> <w:DontBreakConstrainedForcedTables/> <w:DontVertAlignInTxbx/> <w:Word11KerningPairs/> <w:CachedColBalance/> </w:Compatibility> <w:BrowserLevel>MicrosoftInternetExplorer4</w:BrowserLevel> <m:mathPr> <m:mathFont m:val="Cambria Math"/> <m:brkBin m:val="before"/> <m:brkBinSub m:val="--"/> <m:smallFrac m:val="off"/> <m:dispDef/> <m:lMargin m:val="0"/> <m:rMargin m:val="0"/> <m:defJc m:val="centerGroup"/> <m:wrapIndent m:val="1440"/> <m:intLim m:val="subSup"/> <m:naryLim m:val="undOvr"/> </m:mathPr></w:WordDocument> </xml><![endif]--><!--[if gte mso 9]><xml> <w:LatentStyles DefLockedState="false" DefUnhideWhenUsed="true"
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<div class="MsoNormal">Cansado dessa vida de festival decidi abandonar o barco e seguir rumo ao nordeste. Fui de encontro às minhas memórias e aterrisei em Recife, cidade náufraga. <span> </span>Com os olhos marejados desci do avião cantando <i><b>VOLTEI RECIFE</b></i> trançando as pernas em ritmo de frevo, parecia um bonecão do posto em noite de ventania.<span> </span>A cidade sobre os escombros afogados de outrora ainda me causa impacto. </div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">O fato é que enquanto me encolhia na cadeira do avião entre um nutri e outro passei por uma reportagem no jornal Globo intrigante, o headline era mais ou menos esse – A safra de filmes da Premier Brasil decepciona. Não entendi muito bem, afinal o que passa na Premier Brasil, sacas de café? De soja? O jornalista falava de agricultura? Fiquei pensando nessa analogia, quando a safra de café é ruim, todo o café é ruim. E quando a safra da Premier é ruim, todo filme feito no Brasil é ruim?</div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">Me parece que o jornalista trocou as bolas. Pelo que li no mesmo jornal em outra reportagem mais de cem filmes se inscreveram na mostra, mas apenas 17 longas foram selecionados para a competição. Não sei não, mas o problema não é de safra, mas de curadoria. <span> </span>Vamos ser claros. Confesso que não vi nenhum filme da Premier Brasil, mas no entanto tem um bocado de filmes que não foram selecionados que tenho a maior curiosidade de ver. Muitos dos filmes que passaram na <i><b>SEMANA DOS REALIZADORES</b></i> (e que pelo meu caos inerente, e pelos caninos do neném, não consegui ver), como a leva do jovem e ousado cinema Cearence, e o novo documentário da Marília Rocha, devem ser interessantes exemplares dessa “safra”. Há ainda filmes de amigos próximos, como o novo do Felipe Bragança e da Marina Meliande, que não estão no festival e que morro de curiosidade de ver. E mesmo que seja um gesto oracular, pelo o que conheço dos dois, deve adicionar poesia, coragem e beleza a essa nova “safra”.</div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">Imagino também que na própria Premier há filmes interessantes e inovadores. Nesse mesmo blog o <b><i>RISCADO</i></b> foi bem avaliado. </div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">Enfim, esse negócio de se referir ao cinema como safra, gado, curral ou manada é a maior besteira do mundo. Vejam os filmes pelo que eles são. E se é para criticar a curadoria do festival sejam claros, digam em alto e bom tom – a curadoria do festival é uma bosta! Eu como não vi, me abstenho em relação aos filmes que passaram na Premier, mas não nego que adoraria que os filmes citados nesse post fossem exibidos no Festival. <span> </span></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">Roberto Robalinho </div>Guia de Cegohttp://www.blogger.com/profile/01206290322009863662noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8354955291794012570.post-52474993163439946382010-10-08T13:41:00.003-03:002010-10-08T13:46:54.212-03:00GOSSIP BOYChapeuzinho Vermelho me disse que leu o blog. E acha que nós, escrevinhadores rocinânticos virtuais, a fazemos lembrar do seriado Gossip Girl. Terá sido um elogio?<br />
<br />
Será que algum dos nossos meia-dúzia de três ou quatro leitores pode me ajudar a desvendar este mistério esfíngico?<br />
<br />
Lobo MauroGuia de Cegohttp://www.blogger.com/profile/01206290322009863662noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-8354955291794012570.post-38350880357040986402010-10-06T15:29:00.000-03:002010-10-06T15:29:57.737-03:00PAI BOONMEE DÁ CHAPÉU<div class="MsoNormal"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Madrugada de sábado na rua Joaquim Silva, Beco do Rato. Alguns gatos pingados no chorinho, algumas gotas pingadas de chuva e lágrimas. Pinga nos copos. Sede nas almas. A deriva nesta esquina de minha toca. </span></div><div class="MsoNormal"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Chapeuzinho Vermelho passa por mim, sem me perceber. Só pode ser ela. Pago correndo a conta. Deixo troco e algumas perspectivas. Alcanço a rua, mas não minha paixão, que vira pelo avesso minha razão e a esquina da Augusto Severo. Chamo-a, mas no momento em que passa um carro de polícia prendendo minha respiração.</span></div><div class="MsoNormal"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Chapeuzinho caminha, rebolando meus sonhos de um lado para o outro, centrífuga da libido. Salivo e tropeço em minha própria língua caída no chão, ao lado de uma guimba de cigarro e uma lata de cerveja ainda não recolhida. Reciclo minhas esperanças e grito minha urgência. Chapeuzinho se vira, amorenando meu mundo.</span></div><div class="MsoNormal"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Do outro lado da rua, de trás de uma estátua clássica da Praça Paris, amoderna-se um vulto. É o Caçador, que pula a cerca da praça como um Matrix Nagô, atravessa a avenida em dois passos ignorantes de ônibus e outros travestis. Um Caçador Oriental, em trajes de Xangô.</span><span class="Apple-style-span" style="font-family: Verdana, sans-serif;"> </span><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Pai</span><span class="Apple-style-span" style="font-family: Verdana, sans-serif;"> </span><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Boonmee. Abominável usurpador, enlaça Chapeuzinho num beijo puto, levanta-lhe o capuz vermelho acima da cintura. Ai, meus pecados! Chapeuzinho, linda, só de capuz vermelho e uma ínfima calcinha de pele de lobo abatida ao dente. </span></div><div class="MsoNormal"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Pai Boonmee lhe taca a mão naquela bunda pão-de-açucar. Perdi o bonde da história, diabético de afeto. Mas..., que rabo! Um rabo daquele, tão bonito, tão LAN, tão traveco! Chapeuzinho Vermelho, a Menina do Paraguai mais terrível da Augusto Severo. C'est vero!</span></div><div class="MsoNormal"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Acordo suando alívio. Belo Horizonte. Na noite anterior, depois de 5 jogos, meu Galo venceu. Hoje, eleição com vitória garantida de Anastasia e Aécio. O que vim fazer aqui? Pego o celular para ver as horas e encontro um torpedo, cujo alvo, minha lógica: Chapeuzinho Vermelho me dizendo que assistiu um filme ótimo no Festival do Rio. Que riu muito. Uma comédia finlandesa, com a presença ilustre do próprio diretor na sessão. Não diz o nome do filme. Não precisa. </span><span class="Apple-style-span" style="font-family: Verdana, sans-serif;"><b><i>'O Ciúme Mora ao Lado'</i></b></span><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">, de Mika Kaurismäki.</span></div><div class="MsoNormal"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Definitivamente, homem algum jamais entenderá uma mulher. Quiçá, um <b><i><span class="Apple-style-span" style="font-family: Verdana, sans-serif;"><a href="http://www.youtube.com/watch?v=eewDuX1NKeI"><span class="Apple-style-span" style="color: white;">Lobo Bobo</span></a></span></i></b><span class="Apple-style-span" style="color: white;">.</span></span></div><div class="MsoNormal"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Lobo Mauro</span></div><!--EndFragment-->Guia de Cegohttp://www.blogger.com/profile/01206290322009863662noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-8354955291794012570.post-14676472884233921062010-10-06T00:52:00.004-03:002010-10-06T11:52:10.775-03:00NÃO FREUD<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Eu já estava estranhando. Quase duas semanas de Festival do Rio e nenhuma bomba (o filme sobre o Mario Filho é fraco, mas não chega a freqüentar a zona de rebaixamento, ainda que também esteja longe da Sul-Americana). Mas hoje, após êxitos sucessivos, consegui ser presenteado com uma bomba. A mula manca é o mexicano </span><b><i><span class="Apple-style-span" style="font-family: Verdana, sans-serif;">Ano Bissexto</span></i></b><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">, que eu bem poderia ter deixado para 2012. Já certo do juízo final, quem sabe poderia ser poupado de tal constrangimento.</span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br />
</span><br />
<div><div><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Engana-se quem acha que nos estertores, fica mais fácil ver um filme no Festival. Lord Aragão não me deixa mentir. O nobre escriba e eu tentamos em vão acompanhar a </span><b><i><span class="Apple-style-span" style="font-family: Verdana, sans-serif;">Turnê</span></i></b><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"> de Mathieu Almaric, mas sequer conseguimos uma temporada popular na Lona Cultural de Del Castilho. O amigo ainda estava na Glória quando aviso que acabaram-se os ingressos, mas não os otários. Do outro lado da linha, ele me indaga: "Algo que vale a pena?". "Acho que não", respondo sem muita convicção. Mas a amiga Inês aponta a esquina e me informa que o referido o mexicano foi laureado em Cannes. Claro que tal argumento não me convenceria. Mas o comentário a seguir me faz repensar. "É filme com putaria". "Eba!</span><i><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">They fucked up with the wrong Mexican"</span></i><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">, bradei Machetianamente.</span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br />
</span></div><div><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Laura, de 25 anos, vive sozinha e entediada em seu apartamento. Após uma transa com Álvaro, passa a viver com ele um tórrido, hematômico, uréico e nocotínico romance. Acaba por aí? Não, Laura ainda sofre pela perda do pai, que morreu 4 anos antes, num dia 29 de fevereiro. Não sou lá muito talentoso com sinopses, mas fica fácil prever que o filme descamba pro Freud mais clichê. Cenas de perversão, enquadramentos rigorosos e silêncio. Este, devidamente quebrado por um nada cerimonioso ronco do colega ao lado, que também parecia não curtir muito a sessão.</span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br />
</span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">A platéia se deleita com as cenas da personagem se entregando aos delírios de Sade. Tudo muito bobo. Se esse era pra ser o filme-escândalo do Festival, estamos mal. Não dá nem pé de página no Meia Hora. O que resta é Laura riscando os dias em seu calendário, enquanto eu conto os minutos para que a tortura acabe. Pelo menos para que o colega ao lado não acorde com torcicolo.</span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br />
</span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Roberto Souza Leão</span></div><div></div></div>Guia de Cegohttp://www.blogger.com/profile/01206290322009863662noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-8354955291794012570.post-48476874608267240852010-10-05T22:36:00.006-03:002010-10-06T15:21:08.304-03:00MALANDRO É MALANDRO...<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"></div><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS'; line-height: 28px;">Noel Rosa, os nobres silvas Bezerra e Moreira, Macalé, Tim Maia, Nelson Gonçalves, Sergio Mallandro...</span><br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: 'Trebuchet MS';">Como todo bom otário sempre adorei a malandragem. Nada mais natural do que aproveitar a tarde de sábado para levar minha manézice para assistir a <b><i><span class="Apple-style-span" style="font-family: Verdana,sans-serif;">Histórias reais de um mentiroso</span></i></b><i><span class="Apple-style-span" style="font-family: Verdana,sans-serif;">.</span></i> Trata-se do documentário sobre o mais célebre 171 contemporâneo: Marcelo Rocha (pra ficar em apenas um entre tantos nomes e identidades), o sujeito que engrupiu todo o baixo high society do Recifolia fingindo ser filho do dono da GOL. </span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: 'Trebuchet MS';">Sessão de gala. Sobe ao palco a diretora paulista sobre saltos de madeira e cintura dura para os agradecimentos de praxe sem qualquer lábia, lero, ou malemolência. Mariana Caltabiano, com quem Deus foi muito mesquinho em termos de swing ou simpatia, faz as óbvias reverências a patrocinadores e equipe. Tudo muito chato. </span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: 'Trebuchet MS';">Até que, pisando manso, chega ao palco um gordinho bonachão escondido em um boné. A platéia já vai adivinhando de quem se trata quando ele faz um simpático e improvável aceno de algemas para o público. Delírio da galera! </span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: 'Trebuchet MS';">Interrompido pela cintura dura, que rapidamente escorraça do palco a nossa alegria junto com o gordinho bonachão. E antes ainda solta um amargo: “Isso não estava previsto”.</span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: 'Trebuchet MS';">Graças a Deus que isso não estava previsto, dona Caltabiano! Se o gordinho só fizesse o ‘previsto’ provavelmente a senhora não tinha filme. </span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: 'Trebuchet MS';">Mas tem. Amém. Vamos a ele. </span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: 'Trebuchet MS';">Eu até que vou me divertindo com as peripécias do gordinho, temperadas com algumas animações ligeiramente bobocas e uns contrastes de edição espertinhos, quando surge então o grande golpe. </span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: 'Trebuchet MS';">Tá certo, nada absurdo. Assistir a um filme sobre um 171 traz embutido o risco de ser vítima de algum estelionato. Só não adivinhei que se trataria de um estelionato cinematográfico. </span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: 'Trebuchet MS';">Já perto do fim, o filme se aproveita das habilidades aeronáuticas do seu personagem para fazer um desvio de rota. De repente, sem quê nem porquê, estamos acompanhando a tragédia familiar da diretora, que usa seu filme para apontar a culpa da empresa Airbus no acidente da TAM.</span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: 'Trebuchet MS';"> Antes de aterrisar em um melodrama com pitadas de Michael Moore, procuro a saída de emergência enquanto me lembro das instruções das aeromoças da TAP: </span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><i><span style="font-family: 'Trebuchet MS';">“Onde estiver escrito push, não puxe, empurre. Onde estiver escrito pull, não pule, puxe. E onde estiver escrito Exit, não hesite, pule!”</span></i></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: 'Trebuchet MS';">Tarde demais. Antes que eu consiga pular, a diretora me alcança ainda sentado para me fazer ouvir um pito em Voz Over. Com um tom de professorinha de primário, ela passa uma reprimenda pública no gordinho que não se emendou e continuou sendo um mau menino. </span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: 'Trebuchet MS';">Eu me afundo na cadeira, o gordinho mergulha no boné, enquanto a cintura dura segue altiva no salto de madeira. </span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: 'Trebuchet MS';">Realmente, já não se fazem mais malandros como antigamente. </span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: 'Trebuchet MS';">Aurélio Aragão</span></div>Guia de Cegohttp://www.blogger.com/profile/01206290322009863662noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8354955291794012570.post-72305289328454642772010-10-04T01:56:00.007-03:002010-10-04T02:07:32.851-03:00Já levou 500 socos na cara em uma noite só?Resolvi seguir os conselhos de Maíra, minha guru pernambucana. Nada de cinema. Ainda mais numa sexta-feira a noite. Chapeuzinho, está na hora do Lobo beber água!<br />
Caminho serelepe pela Avenida Rio Branco. Cantando na chuva, desviando minhas orelhas das pontas afiadas de sombrinhas vindas de lado, de cima, em direto, em upper, um Anderson Silva pedestre. Por que certas pessoas (muitas, aliás) andam com o guarda-chuva aberto embaixo das marquises e te impurram, órfão de proteção, para adoção da chuva? <br />
Uma mulher, em especial, numa beleza autista, quase me cega o mundo. Gostosa, não rebole tua sombrinha na minha cara como a espelhar teu glúteo máximo nesta tua passarela mínima, pois de mim não receberás um fiufiu! Nada disse, porém. Minha boca fechada pela aura alegre, o mau humor recolhido numa sala escura de uma sessão qualquer do festival. Amanhã, Belo Horizonte, cumprir meu direito de cidadão. Mas hoje, Chapeuzinho será minha!<br />
Outra sombrinha, outra espetacular defesa em pêndulo. Sou liso boxer. Muhammad Ali dos trauseuntes. Peso meio-pesado com agilidade de pluma. Imbatível, intocável. Eu, um deus das esquivas, um Éder Jofre do ri... ai! No meio do caminho não tinha uma pedra. Mas um buraquinho molde do meu pé. Alguém tem um advogado para processar a prefeitura? Não acredito no azar. Dou mais dois passos, tentando sepultar a desdita. Mas me dói o tornozelo. E a alma. Já me conheço. Fui nocauteado pelo ridículo.<br />
Páro um táxi. Chefia, me leva de volta pra casa. Meu tornozelo, uma jabulani. Minha auto-confiança, um Grand Canyon. Muito azar. Só falta agora meu Galo começar a ganhar. Preocupante.<br />
Ligo pra Chapeuzinho. É, boneca, não poderei ir ao teu encontro. Sim, mil deculpas, mas torci feio o tornozelo. Preciso agora de uma enfermeira. E, mais do que nunca, preciso de ti.<br />
Lembrei-me do filósofo Rocky Balboa: "Já levou 500 socos na cara em uma noite só? Depois de um tempo começa a doer."<br />
Pois Chapeuzinho diz que adoraria, mas não pode. Ficasse para a próxima. E boa viagem, meu gatinho.<br />
Sou lobo, penso, e não bichano. Agora, fera ferida, no corpo, na alma. E no coração. <br />
<br />
Lobo MauroGuia de Cegohttp://www.blogger.com/profile/01206290322009863662noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-8354955291794012570.post-85310626269074746292010-10-03T21:16:00.001-03:002010-10-04T01:45:11.407-03:00O DESPACHO E OS CAMINHOS QUE SE BIFURCAM<div class="MsoNormal"><span lang="PT" style="font-family: "Trebuchet MS";">Sábado a noite tinha um compromisso inadiável com o desmascaramento da farsa do Tio Boonme. No estação Botafogo a exatamente meia noite, no meio da encruzilhada entre a Mena Barreto e a Voluntários, Tio Boonmee encarnaria de novo por uma última vez seu cavalo cinematográfico e de novo nos contaria o seu passado. Não sabia ainda que o verdadeiro encontro dessa noite, por ordem do acaso, seria uma volta ao ponto de origem, onde toda a farsa começou. </span></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal"><span lang="PT" style="font-family: "Trebuchet MS";">Saí de casa com uma antecedência de três horas, ignorando o fato de que pessoas dormiam na fila para essa sessão única. Uma tempestade enegrecia o céu e anunciava o destino trágico do herói. Ouvia gritos esparsos e solitários de alegria. Só podia ser mais um mal presságio. O Botafogo fazia um gol em um combalido flamengo. Mesmo assim, apesar dos avisos, e ciente da tormenta que antecede a glória, o herói seguiu seu destino com seu caminhar trôpego. </span></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal"><span lang="PT" style="font-family: "Trebuchet MS";">Não consegui nem a poeira do último ingresso do filme. Assumi minha errância e estupidez mesmo, e comprei ingresso para um filme com a sessão próxima à do Tio Boonmee. Imaginei pelo menos presenciar a agitação exotérica e orgíaca em torno do grande evento.</span></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal"><span lang="PT" style="font-family: "Trebuchet MS";">Faltavam mais de duas horas para a minha sessão e fiz o que era natural e fui beber a errância e as mágoas futebolísticas. Procurei algum rosto conhecido na multidão, e sem um ombro amigo para reconfortar sentei em um bar onde pudesse exercer a solidão sem ser importunado. </span></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal"><span lang="PT" style="font-family: "Trebuchet MS";">O fato é que logo fui salvo do abismo dos sem ingresso e sem amparo. Não, não apareceu nenhum ingresso, mas um grupo de amigos dispostos a compartilhar minha errância etílica e eliminar a aparente solidão noturna. E não é que no meio dessa malta que bebia, segundo orgulhosamente me informaram, a mais de 24 horas seguidas estava o grande Simplício, que de simples não tem nada. </span></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal"><span lang="PT" style="font-family: "Trebuchet MS";">Ali o herói sentiu que a obra do acaso era um capricho do destino. A tempestade espessa e cinza pairando sobre as nossas cabeças como uma barriga de asno se desfazia. Há quase duas semanas atrás, em uma conversa com esse mesmo Simplício, que agora aparecia difuso pela minha embriaguez, surgiu a ideia desse malfadado e irresponsável blog. Não me lembro quem teve a ideia original, mas em algum momento percebíamos que um (des)guia, feito de desvios, era o que faltava para (des)conduzir as pessoas pelo labirinto do festival. E lá nessa noite que se tornava diáfana, estava o Simplício com sua pose de Minotauro tropical e bêbado. </span></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal"><span lang="PT" style="font-family: "Trebuchet MS";">E o Simplício assumia em forma de escracho, sem saber, o papel oracular que esperava encontrar essa noite no Tio Boonmee. E, num inverso avacalhado, o oráculo narrou algo do seu passado. Nos contou em seu tom bufo peculiar o que até então é a sinopse de filme mais bonita do festival. Aviso logo que o filme não passará mais e que tomei a liberdade de não checar a sinopse original. Melhor ficar com a versão poética do Simplício, mesmo que esteja mentido descaradamente. </span></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal"><span lang="PT" style="font-family: "Trebuchet MS";">O filme é o <b><i>NOSTALGIA DA LUZ,</i></b> do renomado diretor chileno Patricio Guzman. Eis a sinopse genial: no deserto do Atacama um grupo de astrônomos busca na imensidão do céu pistas de vida extraterrestre. Enquanto isso, na galáxia seca da areia do deserto, um grupo de mulheres busca vestígios de ossos humanos de parentes vítimas da ditadura chilena. A oposição das imagens é linda. No mesmo lugar, o deserto, vasto por natureza, um grupo olha o céu e as estrelas, outro o chão e os ossos dos mortos. A busca pela vida nas galáxias, e a busca pela morte na terra. Na mesma imensidão o encontro da vida e da morte, do etéreo e do horror, do homem consigo mesmo. E como frisou o nosso oráculo – “o mais louco era que tanto os astrónomos como as mulheres buscam reminiscências do passado. Um a luz que quando chega até nós já é uma imagem de algo que já passou, muitas vezes de uma estrela que já morreu. O outro busca os vestígios da morte, do horror do passado que está enterrado nas areias.” </span></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal"><span lang="PT" style="font-family: "Trebuchet MS";">Me desculpe o Tio Boonmee, mas com esse olhar poético sobre o passado, mesmo diante dos horrores, achei que a noite já estava ganha e desisti de vez da pajelança sem nenhum remorso. A errância tem dessas coisas, como tem as encruzilhadas. São caminhos que se bifurcam e se abrem ao mesmo tempo. Que fique a lenda do Pai Boonmee, que fique a lenda do Simplício. </span></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal"><span lang="PT" style="font-family: "Trebuchet MS";">Roberto Robalinho </span></div><div class="MsoNormal"><br />
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</div>Guia de Cegohttp://www.blogger.com/profile/01206290322009863662noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8354955291794012570.post-17761792737012183992010-10-03T14:49:00.003-03:002010-10-03T14:53:40.837-03:00A MULHER DO LADO<span style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Quinta-feira a noite.</span><br />
<span style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Pois é, a Chapeuzinho teve uma queda para o <span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><strong><em>‘Homem do Lado’</em></strong></span>. Confesso nervoso, de início. Overdose de cinema para um contexto acasalamentador. Mas não é que o safadinho do filme começa muito bem? O plano inicial é surpreendente: enquadramento metade esquerda iluminada, metade direita na sombra. E fica assim, imagem fixa. Até a gente continuar pensando: que raios é isso? Penso ser o fim de um muro branco, numa esquina, o que explicaria a outra metade escura. E minha possível metade ali, do meu lado, rosto oculto na penumbra dos meus sonhos.</span> <br />
<span style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Pow! Na metade negra do quadro, uma marretada. Pow! Um machucado se abre. Ah, meu coração. Pow! Entendi. O buraco em que será colocado a janela. Pow! Uma cicatriz reverberada na parede branca iluminada. Pow! Eita, nada disso. Num mesmo quadro, interna e externa. Duas câmeras criando um mesmo plano. Pow! E o parto de um buraco, visto ao mesmo tempo fora e dentro. Único momento do filme no interior da casa do vizinho, útero de uma história com cordão umbilical intacto.</span><br />
<span style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Filme cheio de graça, com soluções de enquadramentos beirando o genial. E, nos momentos em que minha verve besta de cineasta começa a tecer idéias de que a história começa a desandar, os risos mal contidos da Chapeuzinho me dão um tapa: nenhum filme pode ser ruim se faz um amor sorrir.</span><br />
<span style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Viva a Argentina. ‘O Homem do lado’ tirou Chapeuzinho para bailar. Minha relação tango ainda sobrevive aos meus passos de samba.</span><br />
<br />
<span style="font-family: Trebuchet MS;">Lobo Mauro</span>Guia de Cegohttp://www.blogger.com/profile/01206290322009863662noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8354955291794012570.post-58454185945609493832010-10-02T11:31:00.001-03:002010-10-03T15:00:46.056-03:00CAMPANHA ONDE ESTÁ PAI (TIO) BOONMEE<div class="MsoNormal"><span lang="PT" style="font-family: "Trebuchet MS";"><br />
</span></div><div class="MsoNormal"><span lang="PT" style="font-family: "Trebuchet MS";">Gostaríamos de clamar as multidões para que nos ajudem a encontrar o famigerado ex Tio e atual Pai Boonmee. Essa história de largar a tela do cinema para viver de crendices e orgias na cidade do Rio de Janeiro está muito doida. Queríamos fazer uma entrevista para que o endiabrado ex-personagem de cinema possa dar suas devidas explicações. </span></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal"><span lang="PT" style="font-family: "Trebuchet MS";">Não temos como saber a veracidade dos posts que temos recibido com sua assinatura e se os divulgamos é por que temos um dever ético de (des)informação com nossos leitores.</span></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal"><span lang="PT" style="font-family: "Trebuchet MS";">Aqui na redação estamos muito preocupados que esse fato inédito, o abandono do filme por um personagem, se torne uma verdadeira epidemia. Já pensaram o inferno se o Rio de Janeiro, após anos abrigando todos os golpistas e bandidos internacionais, virar um paraíso orgíaco para ex personagens de cinema? Já pensaram se a moda pega o que poderá acontecer?</span></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal"><span lang="PT" style="font-family: "Trebuchet MS";">Para acabar com esse clima de alarme, queremos encontrar o verdadeiro Pai Boonmee para que ele possa explicar suas verdadeiras intenções. Por isso, por favor, se alguém tiver notícia de seu paradeiro, ou mesmo provas, mande o link com as fotos e vídeos para que o nosso jornalismo investigativo possa chegar ao fundo dessa história.</span></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal"><span lang="PT" style="font-family: "Trebuchet MS";">Agradecemos a atenção de todos e aguardamos ansiosos as colaborações.</span></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal"><span lang="PT" style="font-family: "Trebuchet MS";">Conselho (não)editorial do Guia de Cego.</span></div>Guia de Cegohttp://www.blogger.com/profile/01206290322009863662noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8354955291794012570.post-40107426891528879002010-10-01T22:04:00.001-03:002010-10-01T22:35:01.761-03:00EM CASO DE EMERGÊNCIA....SEGURA NA MÃO DE DEUS!<span lang="PT" style="font-family: "Trebuchet MS";">Não, não estou fazendo apologia ao fluminense, Deus me livre! Finalmente após uma semana de festival consigo escrever um texto sobre um filme. A vantagem de um guia cego e errante é essa. O descompromisso é tanto que nos é permitido essas liberdades e devaneios. Viva os devaneios e a vadiagem descompromissada. </span> <br />
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<span lang="PT" style="font-family: "Trebuchet MS";">Após cantar todas as músicas do Cocoricó (aqueles que são pais saberão o que digo) consegui adormecer os caninos selvagens do meu filho. Tinha a tarde toda para vadiar, então coloquei o meu velho calção de banho e fui ao cinema. </span></div><div class="MsoNormal"><br />
<span lang="PT" style="font-family: "Trebuchet MS";">Sessão de duas da tarde do filme <b><i>OF GODS AND MEN </i></b>no cinema São Luiz. </span><span lang="PT" style="font-family: "Trebuchet MS";">Seria fácil conseguir ingresso</span><span lang="PT" style="font-family: "Trebuchet MS";"> longe da badalação de Botafogo com suas ninfetas cinéfilas. Ledo engano, ao chegar uma fila extensa se formava antes de abrir a bilheteria. Por sorte 90% das pessoas estavam indo ver o filme baseado no livre do Chico Xavier. Quem diria que Chico Xavier seria maior que deus? O azar é que a maioria era de velhinhas que não gostaram nem um pouco dos meus trajes – meu velho calção de banho translúcido!</span></div><div class="MsoNormal"><span lang="PT" style="font-family: "Trebuchet MS";">Entrei na sala usando um jornal para esconder os meus trajes. Grande expectativa com o filme que tinha ganhado o prêmio do júri em Cannes. Apesar de que um amigo sempre me advertiu que cabeça de júri e bunda de nenem ninguém sabe o que pode sair. Agora que sou pai de um nenem de 1 ano e sei o que pode sair de sua bunda devia ter desconfiado do prêmio do juri. </span></div><div class="MsoNormal"><br />
<span lang="PT" style="font-family: "Trebuchet MS";">Para resumir, o que um grupo de monges entocados em uma montanha ouvindo lagos dos cisnes tem de emocionante? Nada, rigorosamente nada. E essa me parece ser a cena de epifania do filme. O que faz um grupo de monges franceses ao serem confrontados com uma situação de perigo em um país muçulmano do norte da África? Essa seria a sinopse do filme. Ora não são monges? O que interessa o perigo? Não vão para céu quando morrerem? Ah, mas o filme vai discutir esse negócio do conflito religioso por um viés humanista, afinal os monges se sentem irmãos dos árabes. Não todos, é claro. Humanismo tem limites. Há os terroristas, o exército e os políticos que não merecem um lugar no céu. Enfim, duas horas de monges rezando e chegando a conclusão que no fim morrer é encontrar deus, me parece um engodo daqueles. Por isso me parece que o filme na verdade é um manual para monges em momentos de perigo – ao ver um árabe terrorista barbudo com sua kalashnikov em punho não se desespere, reze 10 ave marias e 10 pais nosso, e, se isso não funcionar, não se esqueça de que é um monge e tem um lugar garantido no céu. Melhor para o terrorista que, se morrer na jihad, vai para um céu com cem virgens só para ele. </span></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal"><span lang="PT" style="font-family: "Trebuchet MS";">Enfim, mosteiro que não tem o <b><i>Fradim </i></b>não tem a menor graça! </span></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal"><span lang="PT" style="font-family: "Trebuchet MS";">Roberto Robalinho </span></div>Guia de Cegohttp://www.blogger.com/profile/01206290322009863662noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8354955291794012570.post-52200172827066182012010-10-01T13:52:00.000-03:002010-10-01T13:52:26.830-03:00A MEIA NOITE RECORDAREI NO TEU CADÁVERCaríssimos Cegos de Quixote,<br />
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Trago a prostituta amada em três dias.<br />
Curo hemorróidas.<br />
Faço América-RJ campeão brasileiro.<br />
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Aproveito para convidá-los para minha Pagelança Tailandesa que realizar-se-á no Estação Botafogo, à 0h de sábado pra domingo.<br />
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Jogadres de bocha da Xavier de Brito e Proxenetas da Ceará pagam meia.<br />
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Axé!<br />
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Pai BoonmeeGuia de Cegohttp://www.blogger.com/profile/01206290322009863662noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8354955291794012570.post-78564516977118934312010-10-01T12:19:00.002-03:002010-10-01T12:23:05.294-03:00NEM TODAS AS MÃES SÃO FELIZES<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Trebuchet MS";"></span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Trebuchet MS";">Os domingos da minha infância conheceram uma tradição mais forte do que o Silvio Santos ou a Pizza de Mussarela. A cada melancólico crepúsculo dominical, sabíamos que tinha chegado a hora do indefectível telefonema da minha mãe para minha avó. Um quase religioso dever filial que ela cumpria entre resignada e feliz. E que acho que se mantém até hoje. Mesmo que minha quase centenária e completamente surda avó tenha que adivinhar telepaticamente as perguntas gritadas pela minha mãe do outro lado da linha. </span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Trebuchet MS";">Quando meu telefone tocou no último domingo, intuí todos os cruzamentos simbólicos embutidos naquele telefonema. Como diz um amigo meio doido–meio psiquiatra: “Tudo significa!”. Mas encobrindo as razões rituais e afetivas daquela ligação estava um pedido aparentemente singelo. Minha mãe só queria algumas dicas para o festival. </span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Trebuchet MS";">O desastre. Eu ia ser desmascarado. Depois de ser bancado pelos meus pais durante anos para concluir um curso de cinema cujo diploma nem serve para tapar buracos na parede, a minha incompetência ia ser exposta. Horas de aula de teoria, linguagem e história cinematográfica. Milhares de reais gastos em ingressos de filmes obscuros. E eu não era capaz de indicar um filme!?</span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Trebuchet MS";">Diante do pânico daquele momento tentei jogar no seguro. Um pouco evasivo indiquei um filme sobre o Gainsbourg que sei que minha mãe gosta. Mas ainda assim meu fracasso gritava diante de mim. Decidi suprir minhas lacunas cinéfilas assistindo ao filme mais ousado, mais antenado da programação do dia. </span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Trebuchet MS";">Foi então que surgiu. <b>Kaboom</b>. A bomba do meu festival. </span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Trebuchet MS";">Meu erro foi fechar os olhos para os sinais do que estava por vir. Apesar de topar na entrada com uma dúzia de adolescentes mais excitados do que fila do show do Fresno, insisti. O resultado disso já ficou claro nos planos iniciais. O filme abre com um guri sexualmente confuso mergulhado em uma fantasia erótica com um surfista débil mental. E por aí vai. A sensação é a de assistir a Malhação numa versão Playboy TV.</span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Trebuchet MS";">E isso certamente não é o pior. Sexo em geral é bom. Pelo menos distrai. O que faz sofrer é acompanhar um enredo que parece saído de uma partida de RPG jogada por adolescentes oligofrênicos. Costumo ser contra qualquer censura. Mas esse manifesto da confusão hormonal merecia a advertência de “Proibido para maiores”. </span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Trebuchet MS";">Na saída do cinema passo por senhorinhas que balançam as cabeças em desabono. Devem ter filhos tão desastrados quanto eu. </span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Trebuchet MS";">Já do lado de fora, todos os amigos inteligentes chegam para a sessão de um filme costa-riquenho que parece lindo e que eu naturalmente ignorava. Minha incompetência exposta. </span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Trebuchet MS";">A única coisa que me resta fazer é passar o telefone deles para a minha mãe. </span><br />
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<span style="font-family: "Trebuchet MS";">Aurélio Aragão </span></div>Guia de Cegohttp://www.blogger.com/profile/01206290322009863662noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8354955291794012570.post-91892658337538667872010-09-30T16:37:00.005-03:002010-10-06T00:53:27.111-03:00COMO É BOA NOSSA EMPREGADAUm desavisado que descobrisse que, além de<i> <b>A Empregada</b></i>, Im Sang-Soo também realizou um sugestivo <b>A <i>Última transa do Presidente</i> </b>pensaria de bate-pronto: "trata-se de um pornochanchadista coreano". Nem tanto, nem tão pouco. A empregada em questão não faz juz às monumentalidades apoteóticas e sambaleônicas de uma Adele Fátima, mas com certeza seria capaz de fazer Pai Boonmee prever o porvir em outras freguesias.<br />
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Um filme do subgênero Coreano Clássico Narrativo.Oriental não-contemplativo. Desconfiava que já tinha visto alguma coisa dele. Horas antes, no trabalho, meu pernonal IMDB informa dos filmes anteriores de Sang-Soo, que aqui, pra simplificar a minha vida de cronista de festival, chamarei carinhosamente de Samsung. Memória também é esquecimento. De uns tempos pra cá descobri a liberdade de não lembrar. Toda vez que isso acontece me recordo (ou me esqueço) de que em anos anteriores via filmes a Bangu (sempre o futebol!). Poucos são os que ficam. Aos laureados com a minha capacidade mnemônica, chamo-os de fundamentais. Samsung não figurava entre eles. Pelo menos até então.<br />
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Estou confortávelmente instalado na minha poltrona enquanto espero a sessão. O diretor chega como um lutador de boxe, falta-lhe apenas o roupão e o treinador vociferando atrás, "protege a guarda! protege a guarda!". A bela alvinegra que apresenta a sessão diz não saber se Samsung vai apresentar o filme em Inglês ou Coreano. Ele, pândego como os bons, saúda a plateia num suculento e gorduroso brasileirês: "Boa Noite". É o suficiente para angariar a minha simpatia.<br />
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É um filme de mulheres. Elas brilham, excitam, revoltam, até chateiam. O personagem masculino do filme é um mero detalhe. Sua canastrice dá exata dimensão de que veio ao mundo com a mesma função de todos os seus pares: ver as meninas e nada mais nos braços. Almodovar, Hitchcock com ares de Gilberto Braga. Parece pouco elogioso? Um tanto sarcástico? Para alguns, talvez. De certo não para aqueles que, como eu, curtem um melodrama classudo e rasgado. <br />
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Roberto Souza LeãoGuia de Cegohttp://www.blogger.com/profile/01206290322009863662noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8354955291794012570.post-88040345064115580792010-09-30T11:14:00.002-03:002010-09-30T22:02:13.623-03:00MOEDA DE TRÊS FACES<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Chapeuzinho me mandou uma mensagem. "</span><i><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">E quem diria, o improvável transforma-se em real. Há inteligência no mundo animal"</span></i><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">. E eu penso, uau! Mas a vida não é assim tão rima fácil, meus caros meia-dúzia de corajosos leitores. Eis o término:</span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><i>"De qualquer forma, gostaria que o nosso quarto encontro não fosse no Cine Odeon... afinal, nem só de documentários inteligentes (ou nem tão inteligentes assim) vive um mineiro cineasta. Gostaria que, no próximo encontro, eu pudesse levar doces para a vovozinha, mas, é claro, com a sua ilustre companhia!"</i></span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Ou, usando a tecla SAP, se eu errar no quarto encontro, a frase acima transmuta em meu epitáfio. </span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Bem, chegamos quase no meio do primeiro turno do festival. De, deixa eu ver, uns 130 filmes disputados, venci 2 longas documentários, mais seus dois respectivos curtas. Meu aproveitamento é compatível com o do meu Galo. E a pressão aumentou.</span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Abro o guia oficial do festival, já que o nosso não aponta nenhum caminho. Tenho pelo menos uma pista: nada de Odeon! Nhaca, terei que vencer na casa do adversário.</span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"></span><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Pesco um filme do rio caudaloso. Um peixe, chinês, chamado: </span><span class="Apple-style-span" style="font-family: Verdana, sans-serif;"><b><a href="http://www.festivaldorio.com.br/site2010/filmes/filmes.htm"><i><span class="Apple-style-span" style="color: white;">'O Ültimo Trem para Casa'</span></i></a></b>. Se a alcunha fosse 'Wanda', escolha certa. </span><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Pela sinopse, documentário de dois velhinhos casados que se <i>"debatem por um bilhete para a viagem de 50 horas até sua cidade, onde anseiam por encontrar a filha Qin, deixada com a avó há 16 anos." </i>Melhor filme num festival de documentários em Amsterdã. É, não deixa de ter certo pedigree</span><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">. Mas Chapeuzinho irá gostar de outro documentário? Devo ter certas fixações, viu.</span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">O segundo pré-escolhido: <b><i><span class="Apple-style-span" style="font-family: Verdana, sans-serif;"><a href="http://httwww.festivaldorio.com.br/site2010/filmes/filmes.htm"><span class="Apple-style-span" style="color: white;">'Líbano'</span></a></span></i></b>. Vencedor do Festival de Veneza! Ah, todo cinéfilo é meio Serra Pelada, com seu fetiche reluzindo ouro. Mas o filme é de guerra, com os soldados personagens <i>"tentando não sucumbir à claustrofobia"</i> em meio a <i>"uma terra arrasada, repleta de corpos e desespero". </i>Éééé!, perfeito para um ataque romântico do lobo.</span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Terceiro risco, una película hermana. <b><i><span class="Apple-style-span" style="font-family: Verdana, sans-serif;"><a href="http://www.blogger.com/www.festivaldorio.com.br/site2010/filmes/filmes.htm"><span class="Apple-style-span" style="color: white;">'O Homem do Lado'</span></a></span></i></b>. Sinopse divertida, em que um mauricinho argentino fica fulo com um buraco na parede aberto pelo vizinho, para construir uma janela de frente à sua casa. Hum... Melhor fotografia em Sundance. Paradoxo é que não gostei nem um pouco das fotos still no site do festival. </span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Ah, que essa escolha tá tão chata quanto esse post. E tensa. Não me pauto agora por estéticas, narrativas, contemporaneidade. Quero apenas chegar ao coração da Chapeuzinho. Caminho que trilho sem faro e completamente cego. Mas </span><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">como sou lobo resoluto, ligo pra moça, leio para teus ouvidos de carmim as sinopses. E, da tua boca de amora, um </span><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><i>"Decida-se!</i>"</span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Eita..., agora me ocorreu uma quarta face da moeda. <i>"próximo encontro"</i>, <i>"levar doces para vovozinha"</i>, <i>"minha ilustre companhia"</i>... será um eufemismo singelo de <i>"Nada de cinema desta vez, porra!"? </i></span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><i></i></span><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Ai, meu reino interno da Dinamarca!</span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br />
</span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Ver ou não ver, pois agora virou questão.</span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br />
</span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Lobo Mauro</span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br />
</span>Guia de Cegohttp://www.blogger.com/profile/01206290322009863662noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-8354955291794012570.post-19003129987353555552010-09-29T16:04:00.001-03:002010-09-29T16:07:30.413-03:00A DEFESA DE PAI (TIO) BOONMEE<div class="MsoNormal"><span lang="PT" style="font-family: "Trebuchet MS";">Há um provérbio tailandês que diz: mais vale um pássaro na mão do que um voando sobre a sua cabeça. O que eu quero dizer com isso, sei lá! O que queria mesmo é contar a minha versão da história que andam difamando por ai.</span></div><div class="MsoNormal"><span lang="PT" style="font-family: "Trebuchet MS";">Cheguei no Brasil após longa e cansativa carreira internacional e fui logo sendo retido na polícia federal. Entre os interrogatórios de praxe tive um sono profundo e uma revelação que mudou a minha vida. Sonhei que o interrogador era um papagaio falante que fumava um charuto. Ele me deu uns sopapos na cara e foi logo dizendo – Queres beber, cantar asneiras no esto brutal das bebedeiras que tudo emborca e faz em caco? Se pergutarem: que mais queres, além de versos e mulheres? Vinhos!...o vinho que é meu fraco! Evoé baco! Se não fossem as penas e o bico diria que era um poeta maldito. </span></div><div class="MsoNormal"><span lang="PT" style="font-family: "Trebuchet MS";">Depois disso o papagaio saiu do puleiro e me guiou por um corredor longo até um quarto. Lá dentro uma mulata deitava o seu corpo nu em uma cama. Tinha uma rara beleza, daquelas que a gente só vê em filme. O papagaio então cuspiu o charuto e foi andando até a mulata. Chegou bem perto de sua vagina, deu uma última olhada para mim e disse – O Brasil é o país do futuro! O último é a mulher do padre – deu duas piruetas e mergulhou dentro da vagina. </span></div><div class="MsoNormal"><span lang="PT" style="font-family: "Trebuchet MS";">Acordei assustado e percebi que esse negócio de ficar revelando o meu passado em filme tailandês laureado não fazia o menor sentido. Na verdade era muito solitária essa vida engaiolada na tela de cinema. Todo dia era a mesma chatice. Subornei os guardas com o resto do dinheiro da palma de ouro e parti para as ruas da cidade. O resto é lenda! Quem quiser saber que me procure. Agora me dedico às adivinhações e em trazer a pessoa amada em três dias. </span></div><div class="MsoNormal"><span lang="PT" style="font-family: "Trebuchet MS";">Aguardo ansioso pelo carnaval e só volto ao cinema se for para atuar numa pornochanchada! </span></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal"><span lang="PT" style="font-family: "Trebuchet MS";">Ex tio Boonmee, atual Pai Boonmee</span></div><span lang="PT" style="font-family: "Trebuchet MS"; font-size: 14pt;"></span><span lang="PT" style="font-size: 14pt;"></span> <span lang="PT" style="font-family: "Trebuchet MS";"></span><span lang="PT"></span>Guia de Cegohttp://www.blogger.com/profile/01206290322009863662noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8354955291794012570.post-38249348781515730862010-09-28T03:43:00.006-03:002010-09-28T14:26:13.646-03:00AS ETERNIDADES INSTANTÂNEAS<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Ver, eis a decisão.</span><br />
<div><br />
<div class="MsoNormal"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Mas confesso estar deveras preocupado. Meu Galo despencando do poleiro, talvez por minha culpa. Afinal, sorte no amor. Assim interpreto. Pois o que uma Chapeuzinho estaria fazendo ao lado do Lobo, num terceiro encontro de dias consecutivos e indo para uma segunda sessão de outro documentário brasileiro?</span></div><div class="MsoNormal"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Definitivamente, meu time vai pra segunda divisão caso persista minha sorte coronariana. Não há dúvidas! Qual sacrifício, pois, escolherei sofrer: a heresia futebolística ou uma paixão natimorta? Não decido, mas jogo com o destino e flerto com a sinceridade: "Boneca, desta vez não ganharemos convite para entrar." Mas a fé inabalável da Chapeuzinho me assusta: "Quem sabe você não consegue com outro amigo famoso?" Fé ou sua ironia raio-x da minha falastrice: "Olha ali dentro, aquele cara do Sportv!" Olho. É o Smeagol. Ai, meus pecados!</span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"></span><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Mas eis que vem a teoria infalível de meus amigos rocinantes querendo se comprovar: para toda Lei de Murphy, há uma reação contrária e benévola: a Lei de Joaquim. Pois é, Joaquim aparece travestido de minha amiga, <b><i><span class="Apple-style-span" style="font-family: Verdana, sans-serif;">Andrea</span></i></b><b><i><span class="Apple-style-span" style="font-family: Verdana, sans-serif;"> </span></i></b><b><i><span class="Apple-style-span" style="font-family: Verdana, sans-serif;">Capella</span></i></b><span class="Apple-style-span" style="font-family: Verdana, sans-serif;">,</span> que se achega a mim depois do meu aceno. "Mauro, você veio ver meu curta!"</span></div><div class="MsoNormal"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Mas o plano de Joaquim não cobre minha manezice: "Seu curta?" Pronto, a gafe dada de bandeja pra meu esquartejamento mais que justo. Dá pra se notar o quanto sou um cineasta-cinéfilo engajado. E tá lá a Andreinha, num sorriso sapiente. "Você veio pra ver futebol, né? Tudo bem. Mas tá aqui o convite pra você." Sem breguice, fiquei emocionado. E a farsa sobrevivia. Até quando, não sei. Rogo que até depois da Chapeuzinho se ver livre dos doces de sua cestinha.</span></div><div class="MsoNormal"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">É, a Andrea tinha razão. Fui lá pra ver<b><i><span class="Apple-style-span" style="font-family: Verdana, sans-serif;"> <a href="http://www.festivaldorio.com.br/site2010/filmes/filmes.htm"><span class="Apple-style-span" style="color: white;">'Mario Filho'</span></a></span></i></b>. Mas estou cá pra falar do curta dela. Quer dizer, do que ele me suscitou. Afinal, além de cineasta vadio, sou péssimo crítico. E o documentário do Mario Filho foi um gol contra. Dou azar até em jogo dentro de cinema. Com a fotografia mais confusa que o meio campo do meu time, a narrativa mais insossa que a desculpa do LuxemBurro diante de mais uma derrota do Galo, e a glorificação masturbatória tão sacal quanto a que Kalil (infelizmente, presidente do meu Galo) goza de si próprio, o filme só fica bom quando termina. Não, não é uma piada. Nos créditos finais, gol de placa, com um repente dos entrevistados puxando cada qual o Mario Filho pro teu patriarcado clubístico. Deixasse só os créditos finais (com créditos e tudo), e essa obra se tornaria o curta mais ousado, divertido e genial do Festival.</span></div><div class="MsoNormal"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Pois é. <b><i><span class="Apple-style-span" style="font-family: Verdana, sans-serif;"><a href="http://www.visualnethost2.com.br/festrio/2010/web/filme.asp?id_filme=156"><span class="Apple-style-span" style="color: white;">'Instantâneos'</span></a></span></i></b>. A história do último fotógrafo de bares na Lapa. Tá assim, na sinopse. Mas o filme, de instantâneo, não tem nada. É longo, um curta eterno. Não falo da duração dos planos. Nada disso. Mas o fruir dele diz algo do tempo. Algo que não escuto, bem verdade. Certos filmes têm uma diegética pouco porosa pra que minha muito gordurosa intelectualidade consiga atravessar. Simplesmente, não alcanço o conceito. Se muito, o persigo. Mesmo assim, sei lá, alguma coisa mexeu cá dentro. Seja porque estou do lado de uma pessoa pela qual desejo muito que seja, digamos, porosa aos meus escassos, mas sinceros encantos. Ou talvez por outra pessoa que encontrei, duas vezes, antes do Odeon.</span></div><div class="MsoNormal"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Uma da tarde, fui pra comprar os ingressos (que claro, não consegui) e aproveitar pra pegar meu yakissoba dominical no chinês lá perto do cinema. Santo yakissoba, baratinho e rende pra janta. Mas, torto que sou, acabei passando pela Senador Dantas. Rua deserta, a não ser por uma moradora de rua, sentada no chão e encostada na parede de um prédio. Uma faixa cuidadosamente amarrada na cabeça e um batom vermelho passado sem borrões. Segura um canudinho, como um microfone. Passo por ela. Uma entrevista com alguma Hebe Camargo imaginária: "Eu cheguei na casa dele e ele achava que eu tinha que dar."</span></div><div class="MsoNormal"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Continuei caminhando. Quase gargalhando. Mas um riso com verniz de choro. O rosto daquela senhora, de uma harmonia e calma de Sidarta Gautama me impressionou. Quem era aquela mulher com cara de beata? Não, beata tem cara de louca. E aquela louca tinha cara de santa. Uma santa que trepava. Quais riquezas nos privava aquela mulher? E o fotógrafo lambe-lambe ali, revivendo em 24 instantâneos por segundo na tela do Odeon, me fazendo não entender completamente o filme, mas me entranhando de uma emergência afetiva absurdamente curiosa. Quem é esse fotógrafo que não mais caminha pela Lapa? Quem era aquela mulher, sentada na Senador Dantas, na mesma posição e cara, quando passei por ela pela segunda vez, às 3 horas da tarde? Quem é essa Chapeuzinho a meu lado, e a quem rogo me conceder conhecê-la de novo pela primeira vez, num quem-sabe-quarto-dia? Somos sozinhos no mundo. O dente que dói em mim, só dói em mim, mesmo você sabendo da dor que já doeu no seu dente. Caminhamos pelo mundo solitariamente acompanhados. O outro. Quem é o outro? Meu tio vai chorar comigo a queda do meu Galo pra segundona. Quem é meu tio? Não sei. Mas quero chorar junto dele. Somos cada um, universo. Cada tempo, eternidades. Construímos pontes com o ar que nos separa do outro e damos um passo a frente, sempre em falso. E cada falso passo ao outro, uma dança com o outro. Juntos, solitários. Universos paralelos que se encontram, pela geometria, só no infinito. Existe cinema após a morte?</span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Aperto a mão da Chapeuzinho.</span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Acho que estou precisando trepar.</span></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal"><o:p><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Lobo Mauro </span></o:p></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal"><br />
</div></div>Guia de Cegohttp://www.blogger.com/profile/01206290322009863662noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-8354955291794012570.post-56258762938159551642010-09-27T22:54:00.015-03:002010-09-28T14:25:20.158-03:00ESSE FILME NÃO É UM A UM<div style="text-align: justify;"><div style="text-align: left;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Nesse último domingo chuvoso não fui ao Maracanã. Tão pouco ao Engenhão, arena a que nos condenaram pelos próximos anos.</span></div></div><div style="text-align: justify;"><div style="text-align: left;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Guardei os foguetes, enrolei as bandeiras e caminhei bovinamente rumo ao cinema para assistir a... </span><b><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><i><span class="Apple-style-span" style="font-family: Verdana, sans-serif;"><a href="http://www.festivaldorio.com.br/site2010/filmes/filmes.htm"><span class="Apple-style-span" style="color: white;">Mario Filho, o criador das multidões</span></a></span></i><span class="Apple-style-span" style="color: white;"> </span></span></b><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">(de Oscar Maron).</span></div></div><div style="text-align: justify;"><div style="text-align: left;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">O bom leitor já deve ter adivinhado que vira e mexe o futebol vai brotar nas entrelinhas de um blog que devia ser sobre cinema. Respeitamos as nossas verdadeiras obsessões.</span></div></div><div style="text-align: justify;"><div style="text-align: left;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Aos que nunca foram mordidos pelo bichinho do torcedor e acham todo esse engajamento ‘uma absurda perda de tempo dessa gente alienada’, peço desculpas pela profusão de metáforas boleiras que vão tomar conta do resto do texto. Não consegui resistir à óbvia tentação de fazer um paralelo entre a experiência da arquibancada e a da poltrona de cinema em um filme sobre o maior cronista da pelota.</span></div></div><div style="text-align: justify;"><div style="text-align: left;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Então, taí o que você queria (ou não)!</span></div></div><div style="text-align: justify;"><div style="text-align: left;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Primeira surpresa da partida. O jogo preliminar é melhor que o principal. O delicado e preciso curta da </span><span class="Apple-style-span" style="font-family: Verdana, sans-serif;"><b><i><a href="http://www.visualnethost2.com.br/festrio/2010/web/filme.asp?id_filme=156"><span class="Apple-style-span" style="color: white;">Andrea Capella</span></a></i></b></span><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"> foi bem mais interessante do que o longa que veio a seguir. </span><b><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Instantâneos</span></b><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"> é um sutil ensaio sobre a duração, o tempo e outras questões profundas que não cabem no raso desse meu texto que bate na canela. Deixo as boas críticas pra gente mais inteligente.</span></div></div><div style="text-align: justify;"><div style="text-align: left;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Quanto ao longa, meu amigo Roberto tem razão quando diz (inspirado no próprio Mário Filho) que uma partida de futebol pode entrar para a história pelos seus minutos finais. Mas acho que essa regra não vale pro cinema. </span></div></div><div style="text-align: justify;"><div style="text-align: left;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Durante toda a projeção de </span><b><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Mario Filho</span></b><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">, a gente é obrigado a assistir a uma modorrenta narrativa feita de uma série de toquinhos laterais e recuos de bola que só um Parreira poderia se orgulhar de ter inventado. O filme gira, gira e não chega a lugar nenhum. A vontade na platéia era gritar: “Verticaliza, desgraçado!” “Chuta, pelamordeDeus!”</span></div></div><div style="text-align: justify;"><div style="text-align: left;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Aliás, se a gente pudesse gritar no cinema a coisa ia ficar bem mais divertida. “Bota um ponta, Oscar!”</span></div></div><div style="text-align: justify;"><div style="text-align: left;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Mas nem isso resolve. Quando o filme tenta alguma firula o negócio fica ainda mais estranho. É como se tivessem escalado o Denílson na seleção da Suíça. Não cola.</span></div></div><div style="text-align: justify;"><div style="text-align: left;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Na falta dos apupos da torcida, as cabeças pendentes nas cadeiras davam a medida do efeito do filme. Tudo fazia lembrar um tremendo zero a zero.</span></div></div><div style="text-align: justify;"><div style="text-align: left;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Eis que, já nos acréscimos, esperando o apito do juiz, surge o grande lance. O filme consegue, numa jogada improvável, reinventar o Fla-Flu do coração de Mario Filho. E as multidões despertaram já nos créditos finais.</span></div></div><div style="text-align: justify;"><div style="text-align: left;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Realmente genial e memorável. Mas o blasfemo filme de Maron contradiz a teologia boleira cujo Gênesis rodriguano adverte: o Fla-Flu acontece antes do nada. O Fla Flu começa 40 minutos antes do Big Bang. Não depois do juízo final.</span></div></div><div style="text-align: justify;"><div style="text-align: left;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Confesso que a deliciosa montagem sobre o verdadeiro time de coração do Mario Filho vai render uma boa conversa de boteco. Mas desconfio de um filme que funcionaria melhor numa edição dos grandes momentos da rodada. Com direito às boas piadas do Tadeu Schmidt e à ‘voz marcante de Léo Batista’. </span></div></div><div style="text-align: justify;"><div style="text-align: left;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br />
</span></div></div><div style="text-align: justify;"><div style="text-align: left;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Aurélio Aragão</span></div></div>Guia de Cegohttp://www.blogger.com/profile/01206290322009863662noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8354955291794012570.post-27828912787467525642010-09-27T19:56:00.002-03:002010-09-28T11:28:49.637-03:00A DESCOBERTA<div style="text-align: justify;"><div style="text-align: left;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Penso que diante do relato luxurioso do amigo Robalinho, Tio Boonmee finalmente conheceu o Mal dos Trópicos.</span></div></div><div style="text-align: justify;"><div style="text-align: left;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br />
</span></div></div><div style="text-align: justify;"><div style="text-align: left;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Roberto Souza Leão</span></div></div>Guia de Cegohttp://www.blogger.com/profile/01206290322009863662noreply@blogger.com0