terça-feira, 5 de outubro de 2010

MALANDRO É MALANDRO...

Noel Rosa, os nobres silvas Bezerra e Moreira, Macalé, Tim Maia, Nelson Gonçalves, Sergio Mallandro...
Como todo bom otário sempre adorei a malandragem. Nada mais natural do que aproveitar a tarde de sábado para levar minha manézice para assistir a Histórias reais de um mentiroso. Trata-se do documentário sobre o mais célebre 171 contemporâneo: Marcelo Rocha (pra ficar em apenas um entre tantos nomes e identidades), o sujeito que engrupiu todo o baixo high society do Recifolia fingindo ser filho do dono da GOL.

Sessão de gala. Sobe ao palco a diretora paulista sobre saltos de madeira e cintura dura para os agradecimentos de praxe sem qualquer lábia, lero, ou malemolência. Mariana Caltabiano, com quem Deus foi muito mesquinho em termos de swing ou simpatia, faz as óbvias reverências a patrocinadores e equipe. Tudo muito chato.

Até que, pisando manso, chega ao palco um gordinho bonachão escondido em um boné. A platéia já vai adivinhando de quem se trata quando ele faz um simpático e improvável aceno de algemas para o público. Delírio da galera!
Interrompido pela cintura dura, que rapidamente escorraça do palco a nossa alegria junto com o gordinho bonachão. E antes ainda solta um amargo: “Isso não estava previsto”.

Graças a Deus que isso não estava previsto, dona Caltabiano! Se o gordinho só fizesse o ‘previsto’ provavelmente a senhora não tinha filme.

Mas tem. Amém. Vamos a ele.

Eu até que vou me divertindo com as peripécias do gordinho, temperadas com algumas animações ligeiramente bobocas e uns contrastes de edição espertinhos, quando surge então o grande golpe.
Tá certo, nada absurdo. Assistir a um filme sobre um 171 traz embutido o risco de ser vítima de algum estelionato. Só não adivinhei que se trataria de um estelionato cinematográfico.

Já perto do fim, o filme se aproveita das habilidades aeronáuticas do seu personagem para fazer um desvio de rota. De repente, sem quê nem porquê, estamos acompanhando a tragédia familiar da diretora, que usa seu filme para apontar a culpa da empresa Airbus no acidente da TAM.

 Antes de aterrisar em um melodrama com pitadas de Michael Moore, procuro a  saída de emergência enquanto me lembro das instruções das aeromoças da TAP:

“Onde estiver escrito push, não puxe, empurre. Onde estiver escrito pull, não pule, puxe. E onde estiver escrito Exit, não hesite, pule!”

Tarde demais. Antes que eu consiga pular, a diretora me alcança ainda sentado para me fazer ouvir um pito em Voz Over. Com um tom de professorinha de primário, ela passa uma reprimenda pública no gordinho que não se emendou e continuou sendo um mau menino.

Eu me afundo na cadeira, o gordinho mergulha no boné, enquanto a cintura dura segue altiva no salto de madeira.

Realmente, já não se fazem mais malandros como antigamente.

Aurélio Aragão

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