quarta-feira, 6 de outubro de 2010

NÃO FREUD

Eu já estava estranhando. Quase duas semanas de Festival do Rio e nenhuma bomba (o filme sobre o Mario Filho é fraco, mas não chega a freqüentar a zona de rebaixamento, ainda que também esteja longe da Sul-Americana). Mas hoje, após êxitos sucessivos, consegui ser presenteado com uma bomba. A mula manca é o mexicano Ano Bissexto, que eu bem poderia ter deixado para 2012. Já certo do juízo final, quem sabe poderia ser poupado de tal constrangimento.


Engana-se quem acha que nos estertores, fica mais fácil ver um filme no Festival. Lord Aragão não me deixa mentir. O nobre escriba e eu tentamos em vão acompanhar a Turnê de Mathieu Almaric, mas sequer conseguimos uma temporada popular na Lona Cultural de Del Castilho. O amigo ainda estava na Glória quando aviso que acabaram-se os ingressos, mas não os otários. Do outro lado da linha, ele me indaga: "Algo que vale a pena?". "Acho que não", respondo sem muita convicção. Mas a amiga Inês aponta a esquina e me informa que o referido o mexicano foi laureado em Cannes. Claro que tal argumento não me convenceria. Mas o comentário a seguir me faz repensar. "É filme com putaria". "Eba!They fucked up with the wrong Mexican", bradei Machetianamente.

Laura, de 25 anos, vive sozinha e entediada em seu apartamento. Após uma transa com Álvaro, passa a viver com ele um tórrido, hematômico, uréico e nocotínico romance. Acaba por aí? Não, Laura ainda sofre pela perda do pai, que morreu 4 anos antes, num dia 29 de fevereiro. Não sou lá muito talentoso com sinopses, mas fica fácil prever que o filme descamba pro Freud mais clichê. Cenas de perversão, enquadramentos rigorosos e silêncio. Este, devidamente quebrado por um nada cerimonioso ronco do colega ao lado, que também parecia não curtir muito a sessão.


A platéia se deleita com as cenas da personagem se entregando aos delírios de Sade. Tudo muito bobo. Se esse era pra ser o filme-escândalo do Festival, estamos mal. Não dá nem pé de página no Meia Hora. O que resta é Laura riscando os dias em seu calendário, enquanto eu conto os minutos para que a tortura acabe. Pelo menos para que o colega ao lado não acorde com torcicolo.


Roberto Souza Leão

2 comentários:

  1. malditos prêmios que orientam a seleção dos filmes. ainda mais quando não dá para entender como um filme tão ruim (sobretudo pelo uso da linguagem e a direção) ganha um prêmio.
    mas fiquei intrigada com a reação da platéia - ainda bem que tinha um nada-careta-tristão para também considerar como "bobagens" as ousadias do filme.
    e meu nome não tem acento, ora.

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  2. Ines, eu caí nessa com Of Gods and Men, que venceu o grande prêmio do Juri em Cannes. Mas o Beto já o xingou por nós. Ano Bissexto não caí por sorte. Mas, pelo visto, vocês entraram pelo Cannes.

    beijocas, Lobo Mauro

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