quarta-feira, 13 de outubro de 2010

HOJE EU VOU TOMAR UM PORRE, DE ACETATO E POLÍMERO

Quando um lobo vira besta, se apaixona e sua neurose lupina lhe segreda grandes chances do seu rabo ficar entre as pernas, o que geralmente se faz? Toma-se um porre. E foi minha sábia decisão. Comprei cinco ingressos antecipados, on the rocks, pra três dias. Sozinho, sem a Chapeuzinho. Tá, tudo bem, não sou lá um bebum que mete medo, mas pra meus parâmetros, boemia, aqui me tens de regresso.

Destes cinco filmes, quatro de um tal de Bruno Dumont. Francês. Desconhecia. Grande surpresa, o que me relembra, coincidência, do festival passado, outra francesa: Claire Dennis. Engraçado que a França e seus filmes premiados em Cannes (Of God a men, Ano Bissexto) decepcionaram bombasticamente.
Eis os filmes assistidos, nessa ordem: 'A Vida de Jesus', 'Flandres', '29 Palms', 'A Humanidade'. Como sou imbecil, cometi um pecado de  Hadewijch: meu cérebro excell cheio de bug até o colocou na planilha neural, mas fui salvo pela moça dos ingressos. "Moço, você vai assistir '29 Palms' aqui em Botafogo e, 3 minutos depois conseguirá chegar em Ipanema?" É... perdi.
Tirando '29 Palms', gostei de todos. Muito. Bruno Dumont é um cara de estilo, com sua marca registrada na violência espreitadora e na fuderola realista. Planos de xana geniais. Vaginiais!

Mas faltou dizer o quinto elemento. De longe, o mais divertido de todo o meu festival: 'Contos da Era Dourada'. Um filme de curtas romenos. Todos muito bons, com o recorte de tirar sarro mítico da era Nicolae Ceausescu. Vale a fadiga de 150 minutos. Principalmente pelo terceiro curta, de uma possível visita da comitiva do ditador a uma cidadezinha do interior do país. Não é um curta piada, mas é também piada, daquelas genias, subversivas, cheia de entrelinhas, camadas de cebolas que nos provocam lágrimas nos olhos e construída aos poucos. O cinema veio abaixo, a risada foi pra cima. Ecoou pra depois da sessão na minha caminhada de volta.

Só parou quando descobri que tinha um outro filme que deveria ter assistido. Um do Woody Allen! Não... eu assisto filmes do festival me baseando mais naqueles que não vão entrar em cartaz. Mas é que, bendito torpedo abatedor, Chapeuzinho me diz que foi ao cinema a convite da vovozinha. E, claro, os ingressos já estavam esgotados. Mas ela me consola: "Sabe o nome do filme, Lobo? 'Você vai conhecer o homem dos teus sonhos' "

Uau! Mas a pulga atrás da minha orelha decidiu realizar uma festa de arromba, convidando várias outras: a Chapeuzinho ainda VAI conhecer o homem dos sonhos dela? Ela sonhou o meu sonho e o Caçador Pai Boonmee tá rondando a floresta? Afinal, essa minha história da Chapeuzinho segue a narrativa da comédia, comédia romântica, drama, suspense, melodrama ou é um experimental pós-contemporâneo da porra?
Só rezo, para a lua, que não seja um conto da carochinha.





2 comentários:

  1. Gostei do artigo. Você discorre bem. A gente segue a trilha do seu pensamento.
    Com a bênção do seu pai

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  2. Eita! Presença ilustre.
    Mas..., devo dizer: tem pai que é cego!
    A benção, painho!

    Lobo Mauro

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