domingo, 10 de outubro de 2010

ENTRE SAFRA DE JORNALISTAS


Cansado dessa vida de festival decidi abandonar o barco e seguir rumo ao nordeste. Fui de encontro às minhas memórias e aterrisei em Recife, cidade náufraga.  Com os olhos marejados desci do avião cantando VOLTEI RECIFE trançando as pernas em ritmo de frevo, parecia um bonecão do posto em noite de ventania.  A cidade sobre os escombros afogados de outrora ainda me causa impacto.

O fato é que enquanto me encolhia na cadeira do avião entre um nutri e outro passei por uma reportagem no jornal Globo intrigante, o headline era mais ou menos esse – A safra de filmes da Premier Brasil decepciona. Não entendi muito bem, afinal o que passa na Premier Brasil, sacas de café? De soja? O jornalista falava de agricultura? Fiquei pensando nessa analogia, quando a safra de café é ruim, todo o café é ruim. E quando a safra da Premier é ruim, todo filme feito no Brasil é ruim?

Me parece que o jornalista trocou as bolas. Pelo que li no mesmo jornal em outra reportagem mais de cem filmes se inscreveram na mostra, mas apenas 17 longas foram selecionados para a competição. Não sei não, mas o problema não é de safra, mas de curadoria.  Vamos ser claros. Confesso que não vi nenhum filme da Premier Brasil, mas no entanto tem um bocado de filmes que não foram selecionados que tenho a maior curiosidade de ver. Muitos dos filmes que passaram na SEMANA DOS REALIZADORES (e que pelo meu caos inerente, e pelos caninos do neném, não consegui ver), como a leva do jovem e ousado cinema Cearence, e o novo documentário da Marília Rocha, devem ser interessantes exemplares dessa “safra”. Há ainda filmes de amigos próximos, como o novo do Felipe Bragança e da Marina Meliande, que não estão no festival e que morro de curiosidade de ver. E mesmo que seja um gesto oracular, pelo o que conheço dos dois, deve adicionar poesia, coragem e beleza a essa nova “safra”.

Imagino também que na própria Premier há filmes interessantes e inovadores. Nesse mesmo blog o RISCADO foi bem avaliado.

Enfim, esse negócio de se referir ao cinema como safra, gado, curral ou manada é a maior besteira do mundo. Vejam os filmes pelo que eles são. E se é para criticar a curadoria do festival sejam claros, digam em alto e bom tom – a curadoria do festival é uma bosta! Eu como não vi, me abstenho em relação aos filmes que passaram na Premier, mas não nego que adoraria que os filmes citados nesse post fossem exibidos no Festival.  

Roberto Robalinho

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