quinta-feira, 30 de setembro de 2010

COMO É BOA NOSSA EMPREGADA

Um desavisado que descobrisse que, além de A Empregada, Im Sang-Soo também realizou um sugestivo A Última transa do Presidente pensaria de bate-pronto: "trata-se de um pornochanchadista coreano". Nem tanto, nem tão pouco. A empregada em questão não faz juz às monumentalidades apoteóticas e sambaleônicas de uma Adele Fátima, mas com certeza seria capaz de fazer Pai Boonmee prever o porvir em outras freguesias.

Um filme do subgênero Coreano Clássico Narrativo.Oriental não-contemplativo. Desconfiava que já tinha visto alguma coisa dele. Horas antes, no trabalho, meu pernonal IMDB informa dos filmes anteriores de Sang-Soo, que aqui, pra simplificar a minha vida de cronista de festival, chamarei carinhosamente de Samsung. Memória também é esquecimento. De uns tempos pra cá descobri a liberdade de não lembrar. Toda vez que isso acontece me recordo (ou me esqueço) de que em anos anteriores via filmes a Bangu (sempre o futebol!). Poucos são os que ficam. Aos laureados com a minha capacidade mnemônica, chamo-os de fundamentais. Samsung não figurava entre eles. Pelo menos até então.

Estou confortávelmente instalado na minha poltrona enquanto espero a sessão. O diretor chega como um lutador de boxe, falta-lhe apenas o roupão e o treinador vociferando atrás, "protege a guarda! protege a guarda!". A bela alvinegra que apresenta a sessão diz não saber se Samsung vai apresentar o filme em Inglês ou Coreano. Ele, pândego como os bons, saúda a plateia num suculento e gorduroso brasileirês: "Boa Noite". É o suficiente para angariar a minha simpatia.

É um filme de mulheres. Elas brilham, excitam, revoltam, até chateiam. O personagem masculino do filme é um mero detalhe. Sua canastrice dá exata dimensão de que veio ao mundo com a mesma função de todos os seus pares: ver as meninas e nada mais nos braços. Almodovar, Hitchcock com ares de Gilberto Braga. Parece pouco elogioso? Um tanto sarcástico? Para alguns, talvez. De certo não para aqueles que, como eu, curtem um melodrama classudo e rasgado.

Roberto Souza Leão

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