quinta-feira, 4 de outubro de 2012

A GATA DA HORA

Leio a sinopse do último filme do William Friedkin e quase acho que é uma matéria de capa do jornal Meia Hora. Algo do tipo, “playboy faz dívida na boca bota a mãe na roda”, ou “ficou queimado e passou fogo na mãe”. A verdade é que ao final da projeção de Killer Joe, fiquei com uma impressão de ter assistido a versão texana do Cidade Alerta. Tudo no filme me soa um tanto quanto histérico demais. Personagens meio loosers destilando violência e humor negro. Um assassino de aluguel da linha caipira-cool, mau feito um pica-pau. Tenho a nítida impressão de já ter visto isso em algum lugar.

Antes que algum arauto do bom gostismo me interpele, vou logo dizendo que sou um admirador do trabalho de Friedkin. Gosto de O Exorcista, Operação França, da refilmagem de 12 Homens e uma sentença e daquele filme cafona dos anos 80, Viver e Morrer em L.A. Em Possuídos, um de seus últimos trabalhos, me impressiona aquela atmosfera de tensão em um ambiente claustrofóbico. E não nos esqueçamos, em Possuídos tínhamos Ashley Judd. Opa! Então, quase que de supetão, abandono o filme, e me permito ser arrebatado pelos grossos lábios de Gina Gershon. Fico rememorando a sua belíssima entrada em cena. A origem do mundo bem na cara de Emile Hircsh. Ainda que a bela Juno Temple inspire os instintos mais afetivos e protetores, Gina é a razão de meus aplausos.

Foi o suficiente para me deixar devanear pelas melhores primeiras cenas femininas da história do cinema. Sonhei com Nicole em De olhos bem fechados, vibrei com Scarlet, em Encontros e desencontros. Nesses momentos, aqueles minutos de bunda quadrada na poltrona parecem valer à pena. Acho que nunca soube o que é o cinema de fato, mas provavelmente seu verdadeiro sentido deve estar escondido por debaixo do espartilho de Claudia Cardinale em Era uma vez no oeste. Isso, nem mesmo o gosto de frango frito com molho barbecue consegue estragar.

Roberto Souza Leão, vulgo Cersosimo

Nenhum comentário:

Postar um comentário